Realizada no município Presidente Figueiredo, interior do Amazonas, pesquisa do Inpa é voltada ao setor primário na busca de contribuir com a olericultura do Estado
Por Clarissa Bacellar
Do INPA- Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Ariel Blind/Aloysia Blind (Acervo pesquisador)
Condições ambientais da Amazônia (chuva
e/ou calor excessivos) interferem no
desempenho das culturas
O engenheiro agrônomo Ariel Dotto Blind, sob orientação do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Danilo Fernandes Silva Filho, por meio do Programa de Pós Graduação em Agricultura no Tropico Úmido (PPG/ATU), realizou pesquisa com alface americana,
popularmente conhecida como “alface repolhuda”, voltada para o setor primário, que pode contribuir com a olericultura do Estado do Amazonas.
Segundo o engenheiro, as condições ambientais da Amazônia, em determinados períodos do ano, desfavorecem o desempenho das culturas em geral, porque hora chove muito (estação chuvosa) e hora faz muito calor (estação seca), o que de maneira geral favorece modificações nas taxas de crescimento, níveis de qualidade e rentabilidade das culturas. “Estima-se que 90% do que é consumido deste tipo de alface na capital é importado de Brasília e São Paulo, encarecendo o que poderia ser produzido a um custo mais baixo se realizado no Estado”, afirma.
Neste sentido, o estudo teve por objetivo avaliar o desempenho de 20 cultivares (tipo de plantação) de alface americana cultivadas a campo aberto, nas duas estações climáticas. “E isso associado ao uso de filme plástico dupla face (mulching) como cobertura em canteiros a fim de subsidiar informações fundamentais para o aprimoramento produtivo de uma determinada cultura que os produtores regionais carecem”, explica Blind.
De acordo com o engenheiro, a técnica de cobertura do solo “mulching” é muito utilizada na produção de morangos e hortaliças na região sul e suldeste, aprimorando os rendimentos e melhorando a qualidade das folhas e frutos por impedir que estes entrem em contato direto com solo. “Como reais benefícios constatados, esta pratica evita a erosão e mantém a estrutura do solo, evita perdas de fertilizantes por lixiviação e volatilização, diminui a perda de água por evaporação mantendo o solo úmido, interfere o estabelecimento das plantas invasoras e diminui a incidência de pragas e doenças, permitindo de maneira geral que o produtor eleve suas receitas”, afirma.
Blind garante ainda que já existem alguns produtores pioneiros no cultivo deste tipo de alface em Presidente Figueiredo, Manaus e Iranduba, entretanto o produtor se depara com uma situação desconfortável, que em muitos casos faz uso da sorte, em utilizar uma cultivar que talvez não seja a mais ideal para região. “Agora podemos recomendar com precisão as cultivares mais adequadas para cada época do ano e o tipo de mulching ideal para região (...) desde que analisando as vantagens e desvantagens”, esclarece.
O engenheiro constatou entre cultivares das espécies Havassu, Lucy Brown, Gloriosa, Healtmaster e Kaiser, adaptadas às condições climáticas da Amazônia Central, que podem ser cultivadas a campo aberto no período chuvoso e seco com boa estabilidade para formação de cabeças e rendimentos equivalentes a média da região sul e sudeste do Brasil, “produzindo entre 300g a 400g de peso fresco comercial por pé de alface”, desde que seja cultivada sob pré-requisitos essenciais.
Valor nutricional
A alface americana tem sido cada vez mais consumida pelo manauara. Segundo o engenheiro, além de ser indicada para dietas de emagrecimento, é rica em fibras e constitui uma importante fonte de folato, que é indicado para mulheres grávidas, evitando-se anemias. “Possui crocância, melhor palatabilidade, resistência a desidratação, maior vida útil pós- colheita e resistência ao transporte. Este tipo de alface é originaria do Sul da Europa de clima temperado, caracteriza-se por sobrepor as folhas mais novas em processo continuo, podendo formar ou não uma cabeça característica, dependendo do comportamento do genótipo sobre as condições de cultivo”, explica Blind.
Para o engenheiro, existe uma crença muito generalizada no Estado do Amazonas de que as hortaliças tradicionais não produzem, indo de frente aos avanços da Engenharia Agronômica, Genética e Melhoramento de Plantas e áreas correlatadas. “Diversas outras espécies tradicionais possuem potencial de produção para região norte, e que poderiam ser cultivadas a fim de atender as demandas regionais e Estaduais diminuindo as importações, gerando emprego e renda ao olericultor da região”, afirma e ainda expõe: “porém são necessários mais estudos para identificar as melhores ferramentas no sistema produtivo, qualificação profissional dos horticultores e assistência técnica de qualidade”.
E otimiza: “O preço do alface americana é muito animador, vendido nas principais feiras de Manaus (AM) a um custo variando de R$ 7 a R$ 10 reais o quilo para o consumidor. O produtor recebe em média o preço de R$ 5 o quilo, o que pode se traduzir em uma expressiva margem de lucro”.
Foto da chamada: Ariel Blind/Aloysia Blind (Acervo pesquisador)