segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Estudo avalia cultivares de laranja de maturação precoce


Objetivo foi avaliar desempenho de doze cultivares de laranja de maturação precoce

 AGÊNCIA USP DE NOTÍCIASAlicia Nascimento Aguiar, da Esalq em Piracicaba 
Nos últimos anos, as áreas de laranja situadas nas regiões tradicionais do norte e centro-sul do Estado de São Paulo vêm apresentando redução. No entanto, a região sudoeste caracteriza-se por maior incremento tanto na área plantada como na produção de frutos. O deslocamento da citricultura para esta região, além de possuir condições adequadas ao plantio, foi uma alternativa para minimizar o efeito das doenças que oneram o processo produtivo. Pautada nessa tese, Marina Maitto Caputo, do programa de pós-graduação (PPG) em Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, realizou o estudo Avaliação de doze cultivares de laranja doce de maturação precoce na região sudoeste do Estado de São Paulo.
A pesquisadora relata que a citricultura moderna enfrenta desafios que precisam ser resolvidos, principalmente, em relação à diversidade genética dos pomares, a fim de otimizar o processo produtivo e induzir a sustentabilidade do setor. “É restrito o número de cultivares nos pomares comerciais, embora a diversidade de gêneros, espécies, cultivares e clones de citros seja grande. Porém, o processamento industrial baseia-se em quatro cultivares principais que são a ‘Hamlin’ como precoce, a ‘Pêra’ como meia estação e a ‘Natal’ e ‘Valência’ como tardias”, explica a autora do estudo.

Marina destaca que alicerçada nessas quatro cultivares, o processamento industrial de sucos utiliza-se de frutos de junho a dezembro com maior intensidade, e até fevereiro do ano seguinte quando a oferta diminui, sendo março a maio o período de entressafra. Assim, é de extrema importância selecionar cultivares que produzam nesse período.
Dessa forma, o objetivo da pesquisa foi avaliar o desempenho agronômico de doze cultivares de laranja doce de maturação precoce e identificar aquelas superiores à laranja ‘Hamlin’ (cultivar precoce e padrão), a fim de oferecer ao citricultor da região sudoeste de São Paulo, novas opções que produzam frutos de qualidade, tanto para fruta “in natura” como para processamento industrial e que tenham produção antecipada. Foram avaliadas as cultivares ‘Hamlin’, ‘Westin’, ‘Pineapple’, ‘Rubi’, ‘Seleta Vermelha’, ‘Majorca’, ‘Valência 2’, ‘Olivelands’, ‘Kawatta’, ‘IAPAR 73’, ‘Salustiana’ e ‘Valência Americana’.
“Ações de pesquisa relacionadas à potencialização do uso do germoplasma existente, ampliação da base genética dos pomares e avaliação do potencial agronômico de novos genótipos devem ser conduzidos para a sustentação e otimização do sistema produtivo. O uso de novas cultivares copa dará maior competitividade à citricultura brasileira. Além disso, implicará na ampliação da oferta de frutos em épocas de menor disponibilidade, beneficiando toda a cadeia produtiva”, explica a pesquisadora.
Metodologia
As avaliações foram feitas por meio de delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições, compostas por três plantas de cada cultivar. Os dados referentes ao crescimento vegetativo (altura, diâmetro de planta e volume de copa), produção e eficiência produtiva, morfologia dos frutos (massa, largura, comprimento, tamanho, espessura da casca e número de sementes) e características de qualidade interna dos frutos (SST, acidez, porcentagem de suco, “ratio”, índice tecnológico, ácido ascórbico, índices de cor da polpa e da casca) foram coletados. As médias foram comparadas com a cultivar padrão ‘Hamlin’ e analisadas pelo teste Dunnett. Para avaliar simultaneamente as características, foram aferidos os índices de desempenho para identificar cultivares promissoras que atendessem aos requisitos tanto para o processamento industrial como para o consumo “in natura”.

Marina destaca que com esse trabalho foi possível identificar opções de cultivares pouco utilizadas pelo setor citrícola. Foi constatado que há possibilidade de selecionar materiais genéticos alternativos em relação à laranja ‘Hamlin’, sendo a cultivar ‘Westin” para o processamento industrial e as cultivares ‘Valência 2 ‘ e ‘Salustiana’ consumo “in natura”. Porém, ela afirma que são necessários vários anos de avaliação para indicar com precisão cultivares destinadas à região sudoeste de São Paulo. “A instalação de campos de experimentação em diversos ambientes trará informações necessárias para o pleno conhecimento das cultivares copa adequadas para cada região”, complementa.
Enfim, a pesquisa indica, de forma mais detalhada, que a laranja ‘Olivelands’ registrou maior altura de planta e volume de copa, maior produção de frutos e maior eficiência produtiva em relação a cultivar ‘Hamlin’. As laranjas ‘Pineapple’, ‘Olivelands’ e ‘Valência Americana’ apresentam elevado número de sementes. Já os frutos da laranja ‘Westin’ apresentam valores elevados de “ratio”, de porcentagem de suco, de índice tecnológico e de índice de cor da casca e da polpa. Os frutos da laranja ‘Hamlin’ apresentaram valores baixos de sólidos solúveis totais e de porcentagem de suco, não atendendo aos critérios de qualidade para o processamento industrial e para o consumo “in natura” na região sudoeste do Estado de São Paulo. Para o processamento industrial, a laranja ‘Westin’ apresentou alto índice de desempenho enquanto que as laranjas ‘Valência 2’ e ‘Salustiana’ registraram índices de desempenho favoráveis para consumo “in natura”. Não foram observados cultivares de laranja doce com dupla aptidão para o processamento industrial e consumo “in natura”.
O orientador da pesquisa, professor Francisco de Assis Alves Mourão Filho, do Departamento de Produção Vegetal (LPV) da Esalq, ressalta que este trabalho contempla uma rede de experimentos instalados em várias regiões do Estado de São Paulo, com o objetivo de avaliar o desempenho de diferentes materiais genéticos de laranjas doces em áreas de produção comercial. A pesquisa desenvolvida refere-se a um destes experimentos, conduzido em parceria com Eduardo Sanches Stuchi, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, e Simone Rodrigues da Silva, do LPV da Esalq. “Resultados de produção e qualidade de frutos provenientes destes experimentos permitirão futura disponibilização de cultivares alternativos aos citricultores com características superiores”, destaca o docente.
Imagem: Marcos Santos