segunda-feira, 6 de agosto de 2012

"Ilhas de calor" afetam as cidades médias e a saúde pública


Moradias da Cohab de Presidente Prudente com e sem arborização
Portal da Unesp Materiais de construção são responsáveis por esse desconforto térmico
A formação de “ilhas de calor”, áreas com temperaturas mais elevadas e menor umidade do ar, deixou de ser um problema exclusivo das metrópoles. Essa anomalia climática já afeta também as cidades médias, como algumas do interior paulista pesquisadas pelo professor João Lima Sant'Anna Neto, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da Unesp em Presidente Prudente. No estudo, o docente observou, ainda, o impacto da elevação da temperatura na saúde humana, especialmente enfermidades dos aparelhos circulatório e respiratório em pessoas com propensão às doenças.
Com base em série histórica de dados meteorológicos do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) e da Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) Sant’Anna Neto realizou uma análise da temperatura de 1961 a 2009, nas cidades de Presidente Prudente, Votuporanga, Catanduva, Franca, Avaré, Piracicaba e São Simão. Em razão da metodologia empregada, o período de 38 anos foi dividido em dois: 1961-1990 e 1991-2009.

Na comparação entre os dois períodos, a pesquisa verificou um aumento de cerca de 20% no número de dias quentes ao longo do ano, com temperatura acima de 30º C. De acordo com o levantamento, o pesquisador assinala que as “ilhas de calor” concentram-se em lugares com menor índice de vegetação e maior densidade de construções, comércio e indústrias.
Ele observou que nas periferias predominam construções com coberturas de fibrocimento, material que gera calor durante o dia e o libera nas primeiras horas após o por do sol. “Como as cidades tropicais são naturalmente quentes, essas ‘ilhas de calor’ são responsáveis pela intensificação do desconforto térmico e, portanto, podem ser consideradas como um indicador de qualidade ambiental urbana”, destaca.
Influência do material construtivo na temperatura – O nível do desconforto térmico em razão do material de construção foi apontado pela comparação da temperatura entre dois tipos de edificações, na primavera e no verão, na cidade de Presidente Prudente.
Segundo o estudo, em uma edificação residencial em área de classe média, arborizada e coberta com telha cerâmica, seu teto apresenta temperatura de 20,9º C pela manhã; 32,3º C à tarde e 19,3º C à noite. Portanto, uma variação de temperatura diária da ordem de 12º C. Já uma edificação residencial em bairro popular, como a Cohab (Companhia de Habitação), em geral coberta com material de fibrocimento e onde a arborização costuma ser tímida, a temperatura da cobertura é de 44,8º C pela manhã; 39º C à tarde e 20,5º C à noite.
A variação da temperatura do teto da residência varia cerca de 24º C em um único dia. “As temperaturas diurnas do ar oscilam entre 30º C e 35º C, que somadas ao calor produzido e armazenado pelas coberturas de fibrocimento podem superar os 45º C, expondo a população, notadamente idosos e crianças, que permanecem mais tempo dentro das residências”, destaca Sant’Anna Neto.
Saúde pública – O stress térmico não causa apenas desconforto, mas é responsável, também, pela formação de ambientes urbanos insalubres que afetam a saúde humana. Os sinais de exaustão pelo calor são pulso acelerado, dor de cabeça, desmaio, náusea, fraqueza, cãibras, calafrios.
Números do Sistema Único de Saúde (SUS) citados por Sant’Anna Neto apontam que, em 2005, o país registrou 1.565.743 internações por doenças respiratórias e 1.181.612 por problemas circulatórios, respectivamente primeiras e segundas posições no ranking de causas de internações.
Para efeito de comparação, as enfermidades do aparelho digestivo, terceira maior responsável por hospitalizações, somam 974.975 casos. “A população de baixa renda é a mais afetada, pois é obrigada a viver sob os efeitos adversos do calor armazenado nas edificações”, comenta o docente.
Genira Chagas