sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ÁGUA UM DESAFIO PARA O SÉCULO XXI

Quando as represas que abastecem a região da Grande São Paulo estão com água saindo pelo ladrão, o estudo realizado pela Agência Nacional de Águas e publicado pelo jornal "O Estado de São Paulo" mostra que a captação e o fornecimento do precioso líquido exigirá, para não entrar em colapso, de vultosos investimentos nos próximos quinze anos.
O problema da água no Brasil, que a tem em abundância, está muito mais ligado à adequação do que à escassez. A distribuição e captação por ser desigual dá origem a áreas críticas.
 Problema a ser resolvido.
À Redação

A busca pela água

O Brasil deverá investir R$ 41,1 bilhões nos sistemas de produção de água, coleta de esgoto e proteção dos mananciais se quiser assegurar o abastecimento à população até 2025. Um estudo realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA) em 2.965 municípios mostra que 64% deles (1.896) precisam desses investimentos até 2015 ou sofrerão escassez de água. O levantamento foi publicado em três atlas, revelando as condições de saneamento das regiões metropolitanas do País, além dos principais municípios das Regiões Nordeste e Sul. Para os governos federal, estaduais e municipais, o documento deveria servir de guia para investimentos nas áreas mais críticas. A Grande São Paulo por exemplo, conforme a análise, precisa receber R$ 4,036 bilhões nos próximos seis anos para que seu abastecimento seja garantido.

Na região mais rica e densamente povoada do País, a disponibilidade de água é de pouco mais de 200 m³ por habitante por ano. O volume representa menos de 10% do índice de referência adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais de 50% da água consumida por 18,5 milhões de moradores da capital de São Paulo e dos municípios vizinhos já vem de bacias distantes, a custos cada vez mais altos.

Nos últimos dez anos, o número de imóveis cadastrados na região aumentou 55%, passando de 3,3 milhões para 5,1 milhões. Embora a Sabesp tenha mantido um plano de investimento que, entre 2007 e 2010, somou R$ 6 bilhões, seus serviços não acompanham a demanda.

Dos 70 mil litros de água por segundo produzidos pela Sabesp, 80% terminam na rede de esgoto. Além disso, apesar da ampliação dos sistemas de tratamento de esgoto, mais de 40 mil litros por segundo de água não tratada são lançados nos rios e córregos ? o que reduz a disponibilidade de água potável ou para uso industrial.

O atlas da ANA analisa a macrometrópole paulista, as regiões metropolitanas de São Paulo, de Campinas, da Baixada Santista e do Vale do Paraíba, além das cidades vizinhas de Sorocaba e as do eixo Piracicaba-Limeira. São, ao todo, 180 municípios, onde moram 30 milhões de habitantes (75% da população do Estado), que respondem por 83% do PIB estadual e por 28% do nacional. Segundo o levantamento da ANA, as redes de produção, tratamento e distribuição de água formam um sistema complexo e interdependente, havendo, portanto, a necessidade de adoção de estratégias e políticas integradas de saneamento. Todas as cidades da região dependem das mesmas fontes hídricas, que são poucas. Enquanto o Brasil detém 13% da água do mundo, o Estado de São Paulo dispõe de apenas 2% desses mananciais.

As projeções apontam para um forte crescimento demográfico nesses 180 municípios. Até 2035, espera-se que a população salte dos atuais 30 milhões de habitantes para 36 milhões, o que exigirá um aumento de 65% do volume de água captada.

Além de investimentos para a produção de água, será preciso fortalecer iniciativas destinadas à sua conservação. O reaproveitamento da água é uma delas. Recente pesquisa do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água, vinculado à Escola Politécnica da USP, com 2.311 indústrias paulistas de médio e grande portes mostrou que juntas elas gastam R$ 1 milhão por dia com água. Se houvesse a reciclagem, o custo baixaria para R$ 400 mil diários.

No País, se as indústrias usassem água reciclada para resfriar caldeiras, abastecer sistemas de ar-condicionado, realizar a manutenção de máquinas e equipamentos e os serviços de limpeza, seria economizado 1,65 bilhão de litros por dia, o suficiente para o consumo de 8,2 milhões de pessoas.
Empresas de saneamento e os três níveis de governo terão de investir em grandes obras hídricas, mas também deverão promover campanhas educativas para que os consumidores reduzam o consumo, preservem o meio ambiente e diminuam os custos de seus processos produtivos. Somente assim, a macrometrópole terá água disponível para continuar crescendo.

Revista Polo Digital


Fonte: Opinião/ Jornal O Estado de S.Paulo