quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

EMPRESAS BRASILEIRAS ENVOLVIDAS EM DENÚNCIAS NO PARAGUAI

Por Guilherme Dreyer Wojciechowski - SopaBrasiguaia.com


Em briga de cachorro grande, que envolve a participação da organização não-governamental Survival e, até mesmo, da Anistia Internacional, empresários brasileiros, proprietários da empresa agrícola Yaguareté Porã SA, voltaram a desmatar as terras onde viveriam uma das últimas tribos isoladas da América do Sul.



A denúncia, que repercutiu nos principais meios de comunicação do Paraguai, foi protocolada pela organização Gente, Ambiente e Território (GAT), que zela pela defesa dos indígenas Ayoreo Totobiegosode que seguem à margem do contato com a “civilização”.



O habitat da mencionada tribo, no extremo norte do Paraguai, coincide com latifúndios adquiridos, à distância, pelos investidores brasileiros, que pretendem derrubar a mata chaqueña para a instalação de pastagens e a criação de rebanhos bovinos.



A suspensão do desmatamento havia sido determinada mediante portaria da Secretaria Nacional do Meio Ambiente (SEAM). Há, ainda, uma denúncia penal protocolada no mês de junho, denunciando a atuação da empresa e solicitando respeito aos direitos reservados aos indígenas que mantêm-se em isolamento.



Membros já contatados do povo Totobiegosode, residentes na região de Filadelfia, confirmam a existência de “grupos selvagens” nas terras adquiridas pela Yaguareté Porã. O último avistamento dos índios, ocorrido a prudencial distância, foi registrado em 2008.



Terras Sagradas



Outro conflito envolvendo tribos indígenas e empresários do setor pecuarista é o que ocorre na região de Pedro Juan Caballero com a tribo Paî Tavyterã e os proprietários de cerca de 500 hectares de terras situados ao pé do Cerro Yasuka Venda.



Segundo a tradição oral das tribos do norte do Paraguai e de parte de Mato Grosso do Sul, o local é considerado como “o centro do universo”, tendo ali originado-se várias das formas de vida hoje conhecidas.



Em 1990, Jasuka Venda foi declarado patrimônio cultural dos indígenas paraguaios. Três anos mais tarde, o governo confirmou, com a promulgação da Lei nº 209, a expropriação das terras a favor da tribo Paî Tavyterã. Tal medida, no entanto, é ignorada pela justiça local, que segue dando ganho aos pecuaristas.



Mantimentos



Em Itakyry, município paraguaio vizinho ao Lago de Itaipu, a sexta-feira (25/12) foi de conflito entre índios das comunidades Ka´aguy Roky, Tajy Loma, Buena Nueva e Ka´a Poty e funcionários do Instituto Nacional do Indígena (INDI), que chegaram ao local com a intenção de entregar mantimentos.




De acordo com o Diário Última Hora, o protesto foi contra a quantidade insuficiente para garantir a entrega aos moradores das quatro aldeias, com a retenção do caminhão e de seus tripulantes, até que a diretoria do INDI enviasse a quantidade suficiente para alimentar a todos.




Com a aproximação da polícia, no entanto, os índios partiram em debandada e desistiram do protesto. Os caciques Ignacio Gauto, Cristóbal Gauto Taparí, Agustín Benítez, Luciano Villalba e outro identificado apenas como Benítez, devem ser denunciados ao Ministério Público.





A empresa agropastoril brasileira Yaguareté Porã, que possui terras no norte do Paraguai, em áreas habitadas, supostamente, por indígenas jamais contatados pelo “homem branco”, foi alvo de nova denúncia internacional promovida pela organização britânica Survival.




Stephen Corry, diretor do grupo que luta pelos direitos dos últimos povos indígenas do planeta em manterem-se à margem da “civilização”, denunciou, em Londres, o avanço territorial das atividades da empresa e solicitou ao governo paraguaio que não autorize a licença ambiental do projeto.




A intenção dos empresários da Yaguareté Porã é desmatar e cercar a área adquirida, para a instalação de pastagens. No local, porém, foram detectados sinais da presença de indígenas da tribo Ayoreo Totobiegosode, última fora da Amazônia a permanecer à margem do contato com o “homem branco”.




Monitoramentos conduzidos pela Survival, com o apoio de índios da mesma tribo, mas que vivem em áreas onde o contato foi feito em décadas anteriores, indicam a existência de pelo menos cinco grupos de ayoreos “selvagens” na área de divisa seca entre Paraguai e Bolívia.




Os direitos destes indivíduos são garantidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua “Declaração sobre os Povos Indígenas”, que recomenda aos governos que mantenham o isolamento e evitem a realização de contatos, em caso de que estes não sejam solicitados pela própria tribo.




Escassamente povoada, a região do Chaco paraguaio concentra, ainda, significativo percentual de populações de origem indígena, muitas vezes, exploradas por pecuaristas e latifundiários e mantidas sob regime similar à escravidão, com pagamento de salários irrisórios e imposição de contratos vitalícios.

 PREMIO GREENWASHING 2010


Madri (EFE).- Uma empresa brasileira que está destruindo a terra de um povo indígena isolado no Paraguai foi a ganhadora do Prêmio 2010 de Melhor Limpeza de Imagem Ecológica que concede a Survival, informou em Madri a ONG.
O diretor da Survival International, Stephen Corry, explicou que a empresa Yaguarete Pora S.A. ganhou o prêmio por "disfarçar de forma sistemática a destruição por atacado de grande parte da floresta dos indígenas como se tratasse de um nobre gesto à conservação".
Segundo a Survival, a Yagurete possui 78.549 hectares de uma floresta que faz parte do território ancestral do povo indígena Ayoreo-Totobiegosode.
Após a publicação a todo o mundo de uma série de fotografias por satélite que mostravam a destruição de milhares de hectares da floresta, a empresa divulgou um comunicado anunciando que tinha a intenção de criar uma "reserva natural" em sua terra.
No entanto, os planos apresentados pela Yaguarete ao ministro do Meio Ambiente paraguaio revelam que a quantidade de "floresta contínua" na reserva será de apenas 16.784 hectares das 78.549 totais, e que a empresa deve destinar dois terços da terra para criação de gado, acrescenta a ONG.

Fontes da Survival explicaram que se trata de uma "limpeza de imagem ecológica: destruir a floresta e depois preservar um pedaço com o objetivo de difundi-lo por uma nota de imprensa".
"Isto não vai colar entre o povo. A Yaguarete deve parar com a brincadeira e sair do território dos Totobiegosode de uma vez por todas", agregaram. EFE bal/sa