O Instituto Eco&Ação está elaborando um diagnóstico socioambiental de Santa Catarina. Sua equipe, através de pesquisa, entrevistas, captura de imagens e coleta de documentos, fará uma radiografia da situação atual dos recursos naturais do Estado e o tratamento a estes dispensados.
Engajados nesse projeto, no dia 15 de janeiro de 2010, eu, o cinegrafista Oberdan Corrêa e o jornalista Carlos Agne, sobrevoamos a região da Grande Florianópolis, sob os cuidados do Comandante Alexandre Schlichting, da Golden Air.
Nossa, minha gente! Em Biguaçu, o mau cheiro invadiu o helicóptero. Estávamos sobre um lixão a céu aberto. Ou melhor, um aterro sanitário com todas as características de um lixão!
Lá embaixo, vários caminhões despejavam o lixo trazido de outras cidades. Carlos Agne perguntou, indignado: “Com esse cheiro, como essa gente consegue trabalhar?” Ele também ficou pasmo com a proximidade de um vilarejo e da criação de gado. Ora, o Rio Inferninho passa praticamente ao lado do lixão e suas água banham várias fazendas de camarão. Para Agne, este “lixão a céu aberto é uma verdadeira cloaca da região Metropolitana de Florianópolis”.
As imagens capturadas do lixão de Biguaçu, de propriedade da empresa Proactiva, mostram ainda urubus, gaivotas (vetores de doenças)... E a área de lixo a descoberto corresponde a quase 1/3 da célula utilizada. Dependendo do ângulo em que a imagem foi capturada, pode-se dizer que corresponde a mais de 50%.
E isso é irregular, ilegal... Todo dia, os resíduos ali depositados, após serem espalhados por trator de esteira, deveriam receber cobertura (preferencialmente de argila, de 15 a 20 centímetros de espessura). E, então, deveriam ser compactados (vimos apenas uma escavadeira circulando sobre uma montanha de lixo – insuficiente para a tarefa).
Cá entre nós, se isso não está sendo feito, como estará a drenagem e o tratamento do chorume, é caro, envolve o emprego de vários produtos químicos...? Se fugirem das regras em vigor, a contaminação da água, do solo e do subsolo no local e arredores é inevitável. Um perigo para a saúde dos seres vivos da região! Se metais pesados não forem removidos com eficiência no processo em comento, restarão depositados, por exemplo, no aparelho digestivo dos camarões (cujas fazendas podem ser vistas na beira do mar onde desemboca o rio Inferninho).
Estas informações – acompanhadas das imagens que capturamos -, foram entregues ao Procurador da República Eduardo Barragan e à Polícia Federal, que deflagrou a Operação Dríade, em setembro de 2008, e prendeu servidores públicos e empresários da Proactiva, por irregularidades relacionadas a este lixão, inclusive.
Também foi requerida a interdição da área do lixão, como medida preventiva devido ao alto poder contaminante que este tipo de atividade apresenta. Ou seja, é a nossa saúde que está diretamente afetada!
Minha filha perguntou: “E se o lixão for interditado, o nosso lixo irá pra onde?” Não sei. Porque em Santa Catarina existem poucos aterros. Talvez estejam trabalhando em condições semelhantes às da Proactiva já que são implantados longe dos nossos olhos e a gente sabe que aqui reina a fiscalização e da punição zero.
Mas algo deve ser feito. Ou fecha ou obedece à Lei! Não é justo que a empresa continue colocando dinheiro no cofre por um serviço que não é prestado.
Também não é justo que Biguaçu continue acumulando lixo a céu aberto para que a região metropolitana de llha da Magia pareça limpa para atrair turistas!
Estamos diante de caso sério de saúde pública que não pode cair no esquecimento porque o carnaval está chegando!
Ana Echevenguá, advogada ambientalista, coordenadora do programa Eco&Ação, presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Água, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: www.ecoeacao.com.br.