quarta-feira, 2 de junho de 2010

SERGIPE GANHA PLANO DE DEFESA DA CAATINGA


Projeto apoiado pelo PNUD busca promover uso sustentável do bioma ao combater desmatamento e uso indiscriminado da lenha no estado



Danielle Brant/Prima Pagina

Quando se pensa em caatinga, a primeira imagem que vem à cabeça, geralmente, é a de árvores secas em um ambiente que lembra um pouco um deserto. O Projeto Conservação e Uso Sustentável da Caatinga, apoiado pelo PNUD, quer transformar a realidade e mostrar ao Brasil que esse bioma é muito mais do que área de pasto, com a produção de peças de artesanato e de geleias e doces a partir de frutas locais. A iniciativa busca também tornar mais eficiente o uso de madeiras nativas, com práticas que respeitem o meio ambiente.
O primeiro passo para mudar a ideia que se tem de caatinga já está sendo dado: um levantamento da cobertura florestal do estado de Sergipe, que busca verificar qual a área existente e quanto pode ser destinado à exploração.

Outro objetivo da pesquisa é conceber alternativas às ameaças que afetam esse ecossistema, conforme explica o assessor técnico do projeto, Francisco Campello, também funcionário do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

"O levantamento está sendo realizado pela primeira vez no estado, e nós queremos servir de exemplo no Nordeste para ajudar a estimular a elaboração de políticas de gestão florestal baseadas especificamente nos biomas de cada local", explica o especialista.

No caso sergipano, a primeira parte do estudo, que é o trabalho de campo, será concluído até julho deste ano, e Campello estima que as políticas florestais já tenham sido elaboradas em setembro.

O programa busca incentivar pequenas associações que queiram se inserir no mercado, que apostem em produtos sustentáveis e que valorizem o bioma caatinga, explorando uma das muitas possibilidades oferecidas pelo recurso, seja no segmento madeireiro, alimentício e de artesanato.

Ameaças ao bioma

O funcionário do Ibama explica que foram identificadas algumas ameaças à caatinga, a começar pela utilização dos recursos naturais sem as práticas que valorizam a sustentabilidade e a conservação do ecossistema. "Com isso, ele acaba se degradando mais rapidamente", explica Campello.

Uma forma encontrada pelo projeto para solucionar esse problema foi implementar unidades de referência em práticas sustentáveis, nas quais os próprios produtores que adotam essas técnicas contam suas experiências para outros que ainda não as conhecem. "Também explicamos o potencial da caatinga em termos madeireiros, alimentícios e de artesanato", acrescenta o funcionário do Ibama.

Em Sergipe, a degradação do bioma é agravada pelo uso indiscriminado da lenha na matriz energética, sem uma tecnologia que permita melhorar a queima da madeira. Por ser mais barato que os derivados de petróleo e a eletricidade, esse recurso tornou-se a principal fonte de energia usada no estado, e está presente em 40% do parque industrial local. Parte da lenha também é proveniente de desmate ilegal, aumentando a desertificação.

"Nós estamos fazendo um trabalho de conscientização com as indústrias, explicando que não adianta ter forno de última geração se a lenha vem de desmatamento", afirma Campello. Outra preocupação é qualificar os trabalhadores do setor para se adaptarem às tecnologias que prometem eficácia energética na queima, mas com consumo mínimo do recurso.

Uma das metas do projeto é aumentar o número de unidades de conservação, que são áreas demarcadas de proteção da caatinga, além de fomentar a elaboração de legislações regionais que sirvam para implementar políticas públicas dirigidas aos biomas específicos de cada estado.

"Criamos também um fundo para a caatinga, cujo dinheiro é utilizado para recuperar os locais devastados", afirma.