O Rio de Janeiro é o estado brasileiro que menos destruiu florestas. Mas não está contente. Sabe que, embora menos que os outros, devastou muito sua Mata Atlântica. Por isso, uma série de medidas foi adotada para recuperar e ampliar a área coberta por espécies nativas das antigas matas.
Entre elas, uma verdadeira brigada de guardiães foi criada para proteger velhas e novas florestas. São os guardas-parques criados pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão executivo da Secretaria do Ambiente, no ano passado, com a missão de proporcionar proteção integral às 14 unidades de conservação estaduais.
Por enquanto, são poucos. Cedidos pelo Corpo de Bombeiros, cerca de 60 profissionais se desdobram na tarefa de vigiar milhares de hectares.
Primeiro, passaram por um rigoroso curso de qualificação, inclusive com assistência do Instituto de Florestas de Minas Gerais, um dos melhores do Brasil, recebendo aulas de ecologia aplicada, legislação ambiental e uso público de unidades de conservação, entre outros temas específicos e estranhos ä formação convencional da corporação. Ainda este ano, esse número será acrescido de mais 220 pessoas, especialmente contratadas e qualificadas para a missão. No plano do Inea, porém, o efetivo a ser alcançado para bem cobrir as 14 unidades de conservação estaduais é de 400 profissionais.
Se os núcleos pioneiros ainda são pequenos, a disposição é grande. E os resultados, satisfatórios. Segundo o chefe do Serviço de Guarda-Parques do Inea, coronel Jorge Benedito de Oliveira, a integração com a população, umas das premissas do projeto, é evidente.
– A proposta hoje é aumentar a participação da sociedade na preservação ambiental, abrindo, cada vez mais, os parques à visitação pública, e não o contrário, como ocorria. Com isso, ganharemos mais adeptos dessa luta. Na medida em que a pessoa toma contato com a fauna e a flora, ela ganha consciência da necessidade de sua preservação. O guarda-parque tem um papel estratégico na reversão da tradicional relação parque-população – conceituou o coronel Jorge.
Os guardas-parques têm a missão de preparar e adequar as unidades para receber esses visitantes. Lindos por natureza, os parques fluminenses têm atrativos como a própria fauna e flora, trilhas para caminhadas, áreas ideais para esportes radicais e de aventura, montanhismo e mesmo atividades de puro lazer, como banhos de cachoeiras e piscinas naturais. Adequados e preservados, mais agradáveis eles se tornam, segundo o coronel.
– A partir do momento que a pessoa passa a participar dessas atividades, ela não vai querer ver o parque descuidado, sujo, invadido. Ela mesma vai combater a caça, o corte indiscriminado do palmito, o carvoeiro que queima árvores. Enfim, vamos potencializar a defesa do meio ambiente – aposta o chefe do projeto.
Instalados na sede de Piraquara, uma das três existentes no Parque Estadual da Pedra Branca, a maior reserva florestal em área urbana no mundo, com cerca de 12,5 mil hectares, seis bombeiros são comandados pelo primeiro sargento Carlos Pontes na difícil tarefa de cuidar do patrimônio natural. São muitos os desafios, alguns já enfrentados e resolvidos, mas com muitos outros ainda por eliminar, segundo o administrador do local, o primeiro sargento Marcos Melo.
– No início, tivemos de fazer um trabalho de conscientização com pessoas do entorno que montavam oferendas em pontos da floresta. Além de degradação e crime ambiental, a prática estava causando muitos danos para os bichos, com alguns ficando doentes e até morrendo com a ingestão de alimentos. Depois, trabalhamos com praticantes de aventuras que desviavam de trilhas já demarcadas e abriam outros caminhos, degradando ainda mais a floresta. Fora o trabalho para encontrar pessoas constantemente perdidas – explicou Melo.
Além do trabalho de orientação, segurança e educação ambiental de visitantes e apoio a pesquisas científicas desenvolvidas no interior das unidades, os guardas-parques desempenham tarefas mais duras, como abrir, sinalizar e cuidar de trilhas e prevenir, fiscalizar e combater incêndios florestais e queimadas. A sede de Piraquara possui equipamentos adequados para abertura e manutenção de trilhas, recuperação de áreas de lazer e combate a incêndios, como pás, motosserras, mochilas costais, abafadores e bombas d'água. São mesmo necessários, porque incêndio, principalmente provocado por queda de balões, é o que não falta na Pedra Branca. Mas a guia de notificação preventiva de incêndio é a maior arma de combate ao fogo para o chefe do Serviço de Guarda Parques.
- É uma medida educativa e preventiva, não tem caráter punitivo. Quanto mais notificações são realizadas no entorno das unidades de conservação, menos incêndios têm ocorrido. Fazemos cerca de 700 notificações durante as temporadas de balões junto a moradores e sitiantes. Praticamente todos os dias, nossos guardas-parques visitam pessoas do entorno – detalhou o coronel.
Por situar-se próximo a bairros, o parque tem uma pressão urbana muito grande. Por isso, o trabalho educativo e de integração com as comunidades é intenso, como explica o responsável pelos guardas-parques de Piraquara.
– Todos os domingos, numa sala da nossa sede, nos reunimos com líderes comunitários para discutir vários problemas ligados ao parque. E os resultados são visíveis, porque eles passam a fiscalizar o parque, não deixam que queimem mais lixo, que abram mais áreas de pastagens, que degradam o meio ambiente. Além disso, o parque tem um conselho consultivo, composto pela associação de moradores, ONGs, universidades etc., que nos ajuda a conscientizar a população – explicou Pontes.
Por Ascom Palácio