segunda-feira, 5 de julho de 2010

MORANGO SEGURO

Pesquisa pode reduzir o uso de insumos químicos no cultivo de morango

* Débora Motta
                                                                       
       
        Estudo pode resultar em insumos biológicos como alternativa
        natural ao uso de insumos químicos para o cultivo de morango


Substituir o uso indiscriminado de insumos químicos pela aplicação de insumos biológicos, naturais e benéficos, para incrementar a produção de morangos fluminense.

Esse é o desafio do estudo coordenado pela pesquisadora Kátia Teixeira, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Agrobiologia, que visa avaliar o papel da diversidade de comunidades bacterianas e de fungos micorrízicos como promotores do crescimento vegetal dos morangueiros. 

O estudo está sendo desenvolvido a partir da análise de morangueiros da região de Nova Friburgo.

A cidade de clima frio, localizada na região serrana, destaca-se como a principal produtora de morangos do estado do Rio de Janeiro. 


Além da ajuda do propício clima tropical de altitude, o cultivo de morangos na região de Nova Friburgo tem avançado devido à introdução de mudas mais resistentes e produtivas, que são importadas especialmente do Chile. 

Porém, os produtores do local recorrem frequentemente ao uso de insumos químicos, que em excesso são nocivos à saúde do consumidor.

"Até 2015, o Brasil deve eliminar completamente o uso de brometo de metila como agente desinfectante do solo, conforme previsto pelo Protocolo de Montreal em 1987. 

Com a proibição do uso dessa substância, que auxilia na preparação do solo reduzindo a incidência de pragas e doenças nas plantas, mas também prejudica a camada de ozônio, os agricultores têm buscado alternativas para reduzir o uso de insumos químicos, no cultivo convencional", explica Kátia.

Apoiado pela FAPERJ por meio do edital Pensa Rio, o projeto Produção de morango na região serrana do RJ: Diagnóstico da diversidade microbiana e seleção de bioinsumos para redução do uso de agroquímicos está fazendo, inicialmente, um levantamento dos micro-organismos que vivem associados aos cultivos de morangueiros naquela região.

Para isso, estão em processo de análise amostras de bactérias fixadoras de nitrogênio e de fungos micorrízicos encontrados nas plantações de morango de duas propriedades particulares em Nova Friburgo: Fazenda Três Barras e Fazenda Vista Soberba.

"O primeiro passo do projeto será fazer, em laboratório, um diagnóstico da diversidade microbiana que vive no solo associada às raízes dos morangueiros, para então avaliar a relação deles com o crescimento do vegetal", relata.

Durante visitas a essas duas áreas de cultivo em 2009, foram coletadas amostras de solo, diversas plantas de morango e outras plantas nativas para realizar um estudo preliminar de isolamento de bactérias e de fungos micorrízicos. 

"Foram isoladas bactérias fixadoras de nitrogênio e representantes de várias espécies de micorrizas, que se encontram em fase de caracterização laboratorial e casa de vegetação", diz ela, informando que os fungos micorrízicos presentes nas áreas de cultivo estão sendo avaliados quanto ao sucesso de multiplicação em casa de vegetação, utilizando o solo e as próprias plantas de morango coletadas. 

Os fungos micorrízicos são benéficos para a nutrição das plantas, pois se associam naturalmente às raízes, funcionando como uma extensão dessas, e promovendo um aumento do potencial de absorção de nutrientes pelas plantas, principalmente do fósforo. 

Já as bactérias fixadoras de nitrogênio podem ser outras importantes aliadas naturais para a produção de morangos. Elas são comumente encontradas no solo ou em associação com as raízes e colonizam os diversos tecidos da planta. 

Entre as espécies de bactérias fixadoras de nitrogênio em análise no estudo, estão a Azospirillum. "O interesse de desenvolver o isolamento de bactérias fixadoras de nitrogênio surgiu porque nenhuma delas foi isolada antes especificamente nas áreas de cultivo de morango", conta Kátia.

"As bactérias já estão isoladas em laboratório. Estamos em fase de caracterização molecular para identificar as características morfológicas e genéticas delas", completa.
Orivaldo J. Saggin Jr.
   
Propagação de morangueiros em casa de vegetação: meta é      
 multiplicar os fungos micorrízicos nativos da região serrana
O uso de agente de controle biológico também será testado para o controle de Botrytis cinerea, também conhecido como mofo cinza, que é um dos principais causadores da diminuição da produtividade por atacar principalmente os frutos. 

O controle das doenças e pragas poderá ser mais eficiente por meio da utilização de antagonistas a doenças, como fungos do gênero Trichoderma, com efeito direto sobre os agentes causais da doença. 

Nesse caso, será avaliado o efeito antagonista de um produto desenvolvido em parceira entre uma empresa incubada na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a Agribio Defensivos Alternativos, e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio). 

Para a pesquisadora, reduzir o uso de agroquímicos é importante porque, além de assegurar ao consumidor morangos de qualidade e ecologicamente corretos, pode representar uma economia significativa para os produtores, ao reduzir a necessidade da compra de insumos químicos. 

A ideia da pesquisa é que o diagnóstico do potencial de bactérias e fungos seja a base para criar, no futuro, um produto natural eficaz para o controle biológico de doenças nos morangueiros e para estimular o crescimento saudável das plantas, por meio da inoculação de micro-organismos benéficos nos vegetais. 

"Queremos desenvolver um produto com base na biota fluminense, que seja adaptado às condições naturais dos morangueiros da região de Nova Friburgo. 

Pensamos em fazer um produto a ser utilizado no momento do plantio da muda, que é um dos estágios mais importantes para o desenvolvimento da planta. Muitas vezes, a inoculação de bactérias estimula esse estágio inicial da planta", destaca.

No entanto, ainda será necessário desenvolver vários estudos para estabelecer uma seleção precisa das estirpes de bactérias, de micorrizas e de outros organismos.

"Há também necessidade de avaliar as combinações entre eles, de modo que contribuam sinergicamente para aumentar a eficiência da promoção do crescimento vegetal e a qualidade do fruto, inclusive no período pós-colheita.

Temos que avaliar também as condições apropriadas para o seu uso", diz Kátia. 

Em um momento posterior do projeto, os parâmetros agronômicos e para a conservação da vida útil do morango na fase pós-colheita também serão caracterizados, para serem utilizados em comparação com o manejo tradicional adotado pelos produtores. 

Essa fase do projeto vai contar com uma parceria com a UFRRJ e a Embrapa Agroindústria de Alimentos, além de envolver a capacitação de técnicos e dos produtores de morango da região serrana.

"Vamos considerar todos os envolvidos nas diferentes etapas do processo produtivo do morango, porque todos são responsáveis pela segurança do alimento", conclui.

Além dos produtores, a Empresa de Assistência e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater) e o Núcleo de Pesquisa e Treinamento para Agricultores (NPTA - Embrapa Agrobiologia), alocados na região serrana, também participam do projeto.
   DA FAPERJ