sábado, 21 de agosto de 2010

BIODIVERSIDADE


PNUD avalia cultivo alternativo no MT

Indicadores vão monitorar, no Mato Grosso, sistema em que árvores nativas, animais e plantio agrícola compartilham o mesmo espaço
Franco Mattioli/IFAD


DANIELLE BRANT e ANDRÉ ALVES
da PrimaPagina e do BRA/00/G31


O PNUD está fazendo uma das primeiras avaliações sobre a aplicação, na Amazônia, de sistemas agroflorestais — uso da terra em que espécies nativas compartilham o mesmo espaço que o cultivo agrícola e a criação de animais. O levantamento analisa o resultado da estratégia em sete municípios do noroeste do Mato Grosso e verifica o impacto na renda e no emprego das pequenas propriedades, e também sobre a biodiversidade.



Os dados coletados vão embasar um relatório que deverá ser apresentado em outubro às principais agências governamentais ligadas a agricultura familiar, ao governo estadual e a moradores da região.

A implantação dos sistemas agroflorestais nos sete municípios faz parte do projetoPromoção de conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de fronteira do Noroeste do mato Grosso.O monitoramento dos resultados começou há três anos, mas está sendo feito agora de modo mais detalhado.

"Os agricultores e os líderes das comunidades participaram do desenvolvimento desses indicadores junto a técnicos dos municípios e à própria equipe do projeto ", afirma o coordenador do programa, Paulo César Nunes.

Esses indicadores verificarão os efeitos dos sistemas agroflorestais no rendimento, no acúmulo de biomassa, na absorção do carbono, na melhoria da biodiversidade da região e no controle do desmatamento. "Uma vez que as famílias passam a ter remuneração própria, há uma redução do desmatamento, porque diminui o interesse pela exploração da madeira na floresta", diz Nunes. O trabalho de campo para coletar essas informações já foi iniciado.

Já há resultados práticos dos sistemas nos sete municípios mato-grossenses. "Algumas indústrias foram instaladas para beneficiar as produções dessas áreas. Há uma indústria grande de beneficiamento da castanha no Brasil, que aproveita toda a matéria-prima produzida e é comercializada dentro da região e na merenda escolar", aponta o coordenador do programa. Além disso, três indústrias que processam o palmito da pupunheira foram atraídas à região.

Pequenas propriedades

O projeto do PNUD foi elaborado entre 1997 e 2000 e deve ser concluído em dezembro deste ano. Os agroflorestais foram implantados em propriedades de 25 e 100 hectares nos municípios de Juína, Castanheira, Juruena, Cotriguaçu, Colniza, Aripuanã e Rondolândia.

Há indicações, segundo Nunes, de que esse tipo de cultivo aumente a biodiversidade, já que abrigam um maior número de espécies no mesmo local. "Isso favorece a fauna e a alimentação dos animais silvestres", ressalta. Ele avalia que essa pode ser uma alternativa para a recuperação de áreas degradadas na Amazônia. "Essa é talvez a principal saída para essas famílias que vivem em pequenas propriedades."

Um dos produtores que lançam mão desse sistema é José Ramos, que possui uma propriedade de 12 hectares a 4 quilômetros do centro de Juína. Começou há 30 anos produzindo café, mas atualmente investe no gado leiteiro consorciado com ipê, seringueira, cupuaçu e castanha-do-Brasil, e também faz cultivos de pupunheira, cana-de-açúcar, teca, coco e piscicultura. Ele conta que, como muitos que foram para a Amazônia, desmatou seu lote, pois era a política da época. Depois que reconheceu a necessidade de reflorestar, vem diversificando sua propriedade com dezenas de espécies nativas e exóticas.

Já Helmut Raimann é dono de uma chácara de 4,7 hectares e há 10 anos abandonou o uso de agrotóxicos. Ele mantém castanha-do-Brasil, pupunheira e cupuaçu, além de plantar mandioca, arroz, gergelim e feijão andu. Ao todo, tem cerca de 70 pés de castanheira e 3.500 pés de pupunheira, de onde vêm sua principal fonte de renda.

Um dos exemplos da harmonia de criação de animais e espécies vegetais que geram renda em curto, médio e longo prazo é o catarinense Dirceu Dezan, também dono de uma chácara em Juína. "A natureza se adapta na variedade e uma espécie ajuda a outra, não pode ter uma cultura só", diz o agricultor.

Com esse lema ele produz na sua propriedade cupuaçu, laranja, coco e chuchu. Faz adubação orgânica com esterco de ovinos, galinhas e irriga reutilizando água da piscicultura, que desenvolveu especialmente para este fim.







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