terça-feira, 10 de agosto de 2010

PESQUISA REALIZADA NA ESALQ APRESENTA ALTERNATIVA PARA O CONTROLE DA MOSCA DA FRUTA

PESQUISA SUGERE UTILIZAÇÃO DE DERIVADOS DE PLANTA ORIENTAL COMO ALTERNATIVA NO CONTROLE DE MOSCAS-DAS -FRUTAS

Anastrepha fraterculus com abdomen após alimentação da isca
Crédito: Divulgação
DA ESALQ
O Brasil é um país que possui enorme potencial para o desenvolvimento de uma fruticultura sustentável, apresentando vocação e competitividade em nível mundial. Em geral, as áreas de fruticultura que se destinam à exportação de frutas in natura oferecem alto padrão de qualidade, pois apresentam controle fitossanitário eficiente, resultando em grande capacidade de competitividade internacional.

 Um dos maiores entraves que se encontra em relação à produção e comercialização de frutas frescas no Brasil consiste na presença de moscas-das-frutas nas áreas comerciais.








Para garantir a produção de frutas in natura com baixos níveis de agrotóxicos e sem presença de moscas-das-frutas, uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (USP/ESALQ) estudou o controle alternativo de Anastrepha fraterculus (Wied.) e Ceratitis capitata (Wied.), duas espécies de moscas-das-frutas mais prejudiciais à friticultrua brasileira.

Marcio Alves da Silva, autor do estudo "Avaliação do potencial inseticida de Azadirachta indica (Meliaceae) visando ao controle de moscas-das-frutas (Díptera: Tephritidae)" comenta que a produção brasileira de frutas é concentrada em pólos regionais de desenvolvimento, caracterizados pela presença de produtores de pequeno, médio e grande porte, com pacote tecnológico variável e objetivos mercadológicos diversificados. Considera, ainda, que o Brasil apresenta um mercado interno grande, pouco exigente e lucrativo. 

"Nesse cenário, ocorre migração de insetos-praga, para as áreas exportadoras, principalmente de moscas-das-frutas. Essas moscas são provenientes de áreas abandonadas ou de áreas com controle fitossanitário deficiente, resultando em aumento de custo de produção e posterior desestímulo ao modelo exportador", ressalta o pesquisador.

No Brasil, as moscas-das-frutas são controladas basicamente por meio de iscas à base de inseticida mais atraente alimentar. Diferente dessa proposta, Silva optou pelo uso do nim (Azadirachta indica A. Juss.), planta indiana que possui vários compostos inseticidas e que foi introduzida no país na década de 80.

De acordo com o orientador do trabalho, José Djair Vendramin, do Departamento de Entomologia e Acarologia (LEA), algumas características específicas do nim o tornam bastante promissor para o uso no controle de pragas: "a planta não precisa ser distruída para se produzirem os extratos; possui uma multiplicidade de compostos, o que torna mais difícil aos insetos adquirirem resistência; a concentração dos compostos ativos é alta; os compostos são solúveis em água, são fáceis de extrair e com baixo custo; pela sua forma de ação, os compostos são, de modo geral, mais tóxicos às pragas do que os inimigos naturais; os produtos são praticamente inócuos ao ambiente e ao homem; são totalmente biodegradáveis e com baixa persistência no ambiente.

Silva estudou a utilização de derivados do nim (extratos aquosos e orgânicos de amêndoas, folhas e ramos, além do óleo da amêndoa) compondo uma isca para adultos, substituindo os inseticidas. Avaliou o efeito dos derivados do nim como regulador de crescimento dos imaturos, esterilizante de adultos e, por fim, como deterrente de ovoposição.

"Os resultados iniciais obtidos com esse trabalho sugerem a adoção de duas medidas de controle alternativo para moscas-das-frutas. A primeira, visando ao controle da fase de larva em trânsito e ou pupa, estádio em que o inseto fica imobilizado no solo e, conseqüentemente, bastante vulnerável a medidas de controle. A segunda, utilizando os derivados do nim (Azadirachta indica A. Juss) como agentes repelentes de ovoposição numa perspectiva de implementação da estratégia de "push-pull" (atrai e mata)", conclui o pesquisador.

Investigações pormenorizadas no sentido de disponibilizar essas duas estratégias para o fruticultor brasileiro serão executadas no LEA nos próximos anos.

Texto: Alicia Nascimento Aguiar