terça-feira, 17 de agosto de 2010

MACAÚBA - ESTUDOS MOSTRAM SUA POTENCIALIDADE


Estudos revelam potencialidades industriais do fruto da macaúba, palmeira nativa do cerrado



Comum nas paisagens mineiras, a macaúba (Acrocomia aculeata) é a palmeira de maior dispersão no Brasil e uma das mais promissoras fontes de óleo para a indústria cosmética, de alimentos e de combustíveis. Resistente a pragas e a variações climáticas, a espécie tem sido intensamente estudada nos últimos anos, embora sejam incipientes as experiências de plantio planejado.

Foca Lisboa
Pesquisadores_macauba.jpg
Equipe do Laboratório da Macaúba (a partir da esquerda): Viviane Santos Birchal, Gisele Rabelo, Daniel Rezende, Patrícia Carvalho, Maria Helena Caño e Thiago Pimenta, que pesquisam várias frentes relacionadas à industrialização do fruto da macaúba

NOTÍCIAS  DA UFMG




No Laboratório da Macaúba, do Departamento de Engenharia Química da Escola de Engenharia da UFMG, a professora Maria Helena Caño de Andrade coordena estudos que analisam diversos aspectos relativos ao fruto: metodologia de coleta e armazenamento, composição e teor nutricional, rotas e análise da viabilidade econômica do processo industrial de extração do óleo, produção de alimentos e biodiesel.

Segundo a professora, todo o fruto é aproveitável – casca, polpa, castanha e amêndoa – e tanto a polpa quanto a amêndoa têm vasta utilização. Na indústria alimentícia, pode ser processado para uso como óleo de mesa ou na produção de margarinas, cremes vegetais e os chamados shortenings, substâncias usadas em alimentos. A composição do óleo da polpa se assemelha à do azeite de oliva, e o da amêndoa é similar ao óleo de coco. "Devido ao baixo percentual de ácidos graxos poli-insaturados, o óleo da polpa da macaúba torna-se boa opção também para o uso em frituras, pois apresenta maior estabilidade oxidativa quando comparado aos de soja, girassol e milho. No entanto, outros testes devem ser realizados para viabilizar o uso para tal finalidade", diz Maria Helena Caño de Andrade.

Outro filão para o setor é a utilização dos óleos para a produção de biodiesel e na indústria de produtos manufaturados, como cosméticos, fármacos, resinas e lubrificantes. "O consumo mundial de óleos vegetais cresce à taxa de 4,8% ao ano, devido ao aumento populacional e às demandas por biodiesel", informa a professora, ao lembrar que o fruto da macaúba possui massa média de 46 gramas e teor de 20% a 25% de óleo em sua composição.

Energia


Revestimento da amêndoa, a castanha (endocarpo) pode ser utilizada como carvão e como combustível para caldeiras, que produziriam o vapor necessário a equipamentos do processo de beneficiamento da macaúba. Adicionalmente, o excedente pode ser utilizado para a geração de vapor em condições apropriadas para produção de energia elétrica, como já ocorre com o bagaço da cana-de-açúcar nas destilarias e usinas brasileiras. Nem o resíduo final do processo de extração de óleo se perde, pois as tortas da polpa e da amêndoa têm mercado certo como matéria-prima para a produção de ração de uso animal. Além disso, há pesquisas em fases iniciais visando à obtenção de farinha para alimentos como pães e bolos.


Em dissertação defendida no primeiro semestre deste ano, a pesquisadora Gisele Cristina Rabelo Silva propõe um processo industrial de extração dos óleos do fruto da macaúba e demonstra sua alta rentabilidade. "Mesmo que uma usina de beneficiamento funcionasse apenas durante os cinco meses de produção do fruto – de novembro a março – ainda seria um negócio viável", comenta a orientadora da pesquisa, ao lembrar que, em geral, as indústrias que lidam com produtos sazonais trabalham em regime de consórcio de matérias-primas, de modo a se manterem em funcionamento durante todo o ano. A autora da dissertação demonstrou que o tempo estimado para que o capital investido seja recuperado foi um ano e meio, desde que a planta instalada opere 24 horas, por 29 dias mensais durante cinco meses.

Em sua pesquisa, Gisele Rabelo analisou de forma integrada todas as etapas do processamento.Valendo-se de equipamentos do mercado brasileiro, ela quantificou a produção dos óleos de polpa e amêndoa, a perda de óleo nas tortas, a energia consumida, bem como o excedente de endocarpo. Um modelo de simulação da rota de beneficiamento foi desenvolvido, o que permitiu avaliação financeira da cadeia produtiva – custos de implantação e operação da planta industrial. O estudo demonstrou a necessidade de otimizar os maquinários do processo.

Maria Helena Caño destaca a importância dos estudos desenvolvidos pela Engenharia Química com o objetivo de aperfeiçoar a extração dos óleos e gerar matéria-prima para a obtenção de produtos de maior interesse para o mercado. Quanto à produção de biodiesel, por exemplo, o mestrando Daniel Bastos de Rezende pesquisa o processo de catálise heterogênea, que substitui soluções líquidas por resinas sólidas para viabilizar a reação de transesterificação, o que eliminaria etapas posteriores do processo.