Rodolfo Nogueira
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Dentes com características bem peculiares permitiram identificar o dinossauro no grupo dos noassaurídeos |
da FAPERJ por Vinicius Zepeda
Dentes fósseis de um dinossauro carnívoro encontrados na região conhecida como Laje do Coringa, na Ilha do Cajual, a cerca de 20 km de São Luís, Maranhão, permitiram identificar a existência de uma espécie desconhecida no Brasil, com idade estimada em 95 milhões de anos, um dos mais antigos do grupo já encontrados na América do Sul. A descoberta, publicada recentemente na revista britânica Cretaceous Research, foi realizada em conjunto por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Segundo Rafael Lindoso, estudante de doutorado do Instituto de Geociências da UFRJ, o dinossauro pertencia ao grupo dos noassaurídeos, animais de pequeno porte e esqueleto frágil, considerados raros no mundo.
"Esse dinossauro possuía uma dentição bastante incomum entre os dinossauros carnívoros, caracterizada por bordas serrilhadas que percorriam a face lateral dos dentes, e não a região anterior e posterior, como comumente se observa na grande maioria dos dinossauros carnívoros. Esse padrão aparece apenas em uma espécie de dinossauro carnívoro de Madagascar, conhecida como Masiakasaurus knopfleri. Os noassaurídeos mantinham uma dieta especializada, provavelmente alimentando-se de peixes", completa.
"Esse dinossauro possuía uma dentição bastante incomum entre os dinossauros carnívoros, caracterizada por bordas serrilhadas que percorriam a face lateral dos dentes, e não a região anterior e posterior, como comumente se observa na grande maioria dos dinossauros carnívoros. Esse padrão aparece apenas em uma espécie de dinossauro carnívoro de Madagascar, conhecida como Masiakasaurus knopfleri. Os noassaurídeos mantinham uma dieta especializada, provavelmente alimentando-se de peixes", completa.
Lindoso explica que há 95 milhões de anos, no período conhecido como Cretáceo, as massas de terras do hemisfério sul formavam um único supercontinente chamado Gondwana, que incluía a América do Sul, África, Antártica, Indo-Madagascar e Austrália. Apesar de já terem iniciado o processo de fragmentação, na época, América do Sul e África ainda estavam muito próximas, o que teria facilitado a passagem desses animais entre os dois continentes. Os fósseis mais antigos de noassaurídeos foram descobertos em rochas de 110 milhões de anos, durante o período Cretáceo inferior, na Europa e África, e, de acordo com a pesquisa, teriam posteriormente migrado para a América do Sul e Madagascar.
Divulgação |
Os fósseis foram encontrados na Laje do Coringa, na Ilha do Cajual, a cerca de 20 km de São Luís, no Maranhão |
O ambiente na época era caracterizado como um estuário: rios enormes desaguando no mar, vegetação luxuriante em meio a um clima árido. Foi a época de surgimento do Atlântico Sul, quando apareceram os primeiros golfões e as elevações do nível do mar assolavam o litoral. Nesse cenário instável em profunda transformação, os terremotos eram comuns na região. "O clima tornava-se mais chuvoso, com a possibilidade de surgimento de novos habitats e, consequentemente, de outras espécies animais e vegetais", acrescenta o paleontólogo, Ismar Carvalho, da UFRJ, um dos autores da pesquisa e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.
Os noassaurídeos viveram durante boa parte do Cretáceo na Argentina, França, Níger, Madagascar e Índia. Porém, apenas uma espécie é bem conhecida: o Masiakasaurus knopfleri, descoberto em Madagascar e medindo 2 metros de comprimento. "Entretanto, ao estudarmos os dentes da espécie brasileira, constatamos que se tratava de um parente distante e maior do Masiakasaurus, podendo alcançar cerca de 3 metros de comprimento", destacam Lindoso e Ismar Carvalho. "É um dos maiores noassaurídeos já descobertos em todo o mundo. Pesquisas como essa, consideradas inéditas no Brasil, sugerem que a real diversidade dos dinossauros que habitaram a Terra ainda está longe de ser compreendida", concluem.