A equipe orientada pelo professor Alcides Lopes Leão, do setor de Ciências Ambientais da FCA, buscou ouvir os mais interessados na medida: os consumidores. Foram entrevistadas 240 pessoas, divididas por sexo e faixa etária, em oito supermercados de Botucatu.
As entrevistas mostraram que 63% dos consumidores acham que os supermercados deviam continuar a fornecer as sacolas gratuitamente, 92% dos entrevistados utilizava as sacolas para acondicionar o lixo doméstico e 53% acreditam que deixar de distribuir gratuitamente as sacolinhas descartáveis não diminui seu impacto ambiental.
O trabalho dos estudantes da FCA lembra que o impacto dos plásticos no meio ambiente é indiscutível e que não há legislação que proíba ou que obrigue a distribuição de sacolas plásticas aos consumidores, mas recomenda que a população seja ouvida no processo. “A maior importância deste trabalho é desmistificar o apelo ambientalista que os supermercados estão usando, desconsiderando outros impactos ambientais e o impacto econômico nas famílias”, analisa Leão.
Alguns dados levantados pelo grupo evidenciaram a motivação econômica por trás da aparente preocupação ecológica. Grandes lojas em cidades do porte de Botucatu podem chegar a economizar 15 mil reais mensais com a iniciativa, sem nenhuma espécie de desconto nos preços das mercadorias. Por outro lado, o aumento da venda de sacos de lixo nos supermercados chegou a 30% em alguns supermercados. A cobrança por um produto que por décadas foi fornecido gratuitamente onera orçamento das famílias.
Leão já participou de debates sobre o assunto, inclusive refutando o argumento utilizado pela Associação Paulista dos Supermercados de que o polímero utilizado nas sacolas plásticas não seria reciclável. Para ele, o fato de alguns supermercados venderem sacos de papel tipo Kraft, produto que poderia ser distribuído em substituição às sacolas plásticas, também mostra o interesse exclusivamente financeiro da medida. “Esse é um material que em nada impacta o ambiente”.
Especialista nessa área, reconhecido internacionalmente, o professor lembra que, além de não resolver a questão do lixo, a iniciativa dos supermercados pode agravá-la em alguns aspectos, pois as caixas de papelão que antes eram recicladas limpas, passaram a ser descartadas como lixo comum, indo parar nos aterros sanitários e reduzindo a disponibilidade desse material na cadeia produtiva da reciclagem.
A conclusão do trabalho sugere que a solução para questões ambientais relativas ao lixo ou ao uso de plásticos passa longe de iniciativas ligadas a interesses mercadológicos. Um consumidor bem educado e informado sobre todos os aspectos da questão deveria ter o arbítrio sobre o uso ou não das sacolinhas. “A solução para a preservação ambiental está na educação“, ressalta o professor Leão. “A defesa do meio ambiente só será eficaz se as ações partirem de princípios educativos e não de restrição de um ou outro produto”.
O trabalho foi apresentado durante a Semana de Estudos e Pesquisas Pedagógicas (SEPP) da FCA em maio último.
Sergio Santa Rosa, da Assessoria de Imprensa da FCA/Botucatu/UNESP