Voando por Ribeirão, professora da FFCLRP constatou danos ao ambiente | |
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USP Online
No final de agosto, a professora Maria Lucia Moura Campos, do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, sobrevoou de helicóptero, convidada por uma equipe local de televisão, a cidade de Ribeirão Preto. Na ocasião, dias antes havia ocorrido uma queimada em áreas verdes do município. |
Parte da área atingida estava próxima do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. Tal situação fez com que a professora imaginasse, na ocasião, o seguinte cenário: uma ala de hospital cheia de pessoas fumando charuto no meio de centenas de outras com a saúde já fragilizada, e alertasse, mais uma vez, a sociedade sobre o perigo das queimadas.
A professora, especialista em química ambiental, viu durante o voo um céu “impressionantemente escuro e empoeirado”. O cenário é, segundo a docente, resultado dos vários focos de incêndio, como um próximo de área de floresta na região de Altinópolis (município próximo a Ribeirão Preto) e em bairros residencial de Ribeirão.
“É muito comum as pessoas associarem emissão de contaminantes com carros e grandes queimadas. Porém, no seu próprio quintal, os mesmos poluentes podem ser formados e ainda pode ser pior se houver plásticos e lixo juntos, pois haverá formação de dioxinas, que são extremamente cancerígenas”, apontou a professora.
Outro fato que chamou a atenção da pesquisadora Maria Lucia Moura Campos foi a observação de uma área de mata ciliar queimada às margens do Rio Pardo. “Isso poderá prejudicar a retenção da água de chuva e aumentar o risco de cheia. Esse cenário mostra a fragilidade e a facilidade com que a mata de reservas pode ser afetada”, explicou.
Outro fato que chamou a atenção da pesquisadora Maria Lucia Moura Campos foi a observação de uma área de mata ciliar queimada às margens do Rio Pardo. “Isso poderá prejudicar a retenção da água de chuva e aumentar o risco de cheia. Esse cenário mostra a fragilidade e a facilidade com que a mata de reservas pode ser afetada”, explicou.
Crime
Evidenciando a responsabilidade social, Maria Lucia lembrou que as queimadas espontâneas, sem a ação do homem, são possíveis, mas muito pouco prováveis. “A queima intencional é crime e proibida em áreas urbanas. Mesmo as da palha da cana para colheita nesse período também já foram proibidas”.
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Professora Maria Lucia Moura Campos, do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) |
A professora citou que ações aparentemente pequenas, como o descarte no chão de uma ponta de cigarro, podem trazer conseqüências maiores. “Em países da Europa, por exemplo, é falta grave de trânsito jogar uma bituca de cigarro pela janela do carro. Talvez esse tipo de restrição dê à população uma melhor percepção do perigo de lançar no solo uma faísca de fogo. Mas há grandes dificuldades de fiscalizar e de conscientizar as pessoas para evitarem a queima”, destacou.
São vários os danos à saúde que, segundo Maria Lucia, podem ocorrer devido a esse cenário. Durante o processo de queima da vegetação, por exemplo, são emitidas espécies químicas como monóxido de carbono (CO), que afeta principalmente pessoas com problemas cardíacos, causando sintomas como dor no peito e cansaço; óxidos de nitrogênio (NOx) e de enxofre (SO2), que são espécies bastante ácidas, agravam problemas respiratórios; hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), muitos dos quais com conhecida ação carcinogênica; e vários outros compostos, incluindo compostos orgânicos voláteis.
A combinação de ar seco, elevadas temperaturas, luminosidade excessiva, óxidos de nitrogênio e carbono orgânico volátil eleva a produção de ozônio, apontou Maria Lucia. “Sabe-se que para cada hectare da palha da cana queimada, emite-se cerca de 250 kg de matéria orgânica e de 60 kg de óxidos de nitrogênio. Esses valores podem ser mais elevados para uma área contendo mata fechada. Assim, não é à toa que a concentração de ozônio está tão elevada na região”, concluiu.
São vários os danos à saúde que, segundo Maria Lucia, podem ocorrer devido a esse cenário. Durante o processo de queima da vegetação, por exemplo, são emitidas espécies químicas como monóxido de carbono (CO), que afeta principalmente pessoas com problemas cardíacos, causando sintomas como dor no peito e cansaço; óxidos de nitrogênio (NOx) e de enxofre (SO2), que são espécies bastante ácidas, agravam problemas respiratórios; hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), muitos dos quais com conhecida ação carcinogênica; e vários outros compostos, incluindo compostos orgânicos voláteis.
A combinação de ar seco, elevadas temperaturas, luminosidade excessiva, óxidos de nitrogênio e carbono orgânico volátil eleva a produção de ozônio, apontou Maria Lucia. “Sabe-se que para cada hectare da palha da cana queimada, emite-se cerca de 250 kg de matéria orgânica e de 60 kg de óxidos de nitrogênio. Esses valores podem ser mais elevados para uma área contendo mata fechada. Assim, não é à toa que a concentração de ozônio está tão elevada na região”, concluiu.
A docente disse ainda que esse ozônio que respiramos é extremamente oxidante e causa ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca, e agrava doenças respiratórias. Além do ozônio, outro parâmetro que tem deixado nossa atmosfera com qualidade regular é a quantidade de material particulado. “Quanto mais fino, mais penetra nos pulmões, levando ao agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares. Nossa [a de Ribeirão Preto] região tem um tipo de agricultura que deixa o solo muito exposto, principalmente na época da safra”.
Por Rosemeire Soares Talamone, da Coordenadoria do Campus de Ribeirão Preto