terça-feira, 21 de setembro de 2010

DANOS AO AMBIENTE EM RIBEIRÃO PRETO/SP

Voando por Ribeirão, professora da FFCLRP constatou danos ao ambiente

No final de agosto, a professora Maria Lucia Moura Campos, do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, sobrevoou de helicóptero, convidada por uma equipe local de televisão, a cidade de Ribeirão Preto. Na ocasião, dias antes havia ocorrido uma queimada em áreas verdes do município.


Parte da área atingida estava próxima do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. Tal situação fez com que a professora imaginasse, na ocasião, o seguinte cenário: uma ala de hospital cheia de pessoas fumando charuto no meio de centenas de outras com a saúde já fragilizada, e alertasse, mais uma vez, a sociedade sobre o perigo das queimadas.

A professora, especialista em química ambiental, viu durante o voo um céu “impressionantemente escuro e empoeirado”. O cenário é, segundo a docente, resultado dos vários focos de incêndio, como um próximo de área de floresta na região de Altinópolis (município próximo a Ribeirão Preto) e em bairros residencial de Ribeirão.

“É muito comum as pessoas associarem emissão de contaminantes com carros e grandes queimadas. Porém, no seu próprio quintal, os mesmos poluentes podem ser formados e ainda pode ser pior se houver plásticos e lixo juntos, pois haverá formação de dioxinas, que são extremamente cancerígenas”, apontou a professora.

Outro fato que chamou a atenção da pesquisadora Maria Lucia Moura Campos foi a observação de uma área de mata ciliar queimada às margens do Rio Pardo. “Isso poderá prejudicar a retenção da água de chuva e aumentar o risco de cheia. Esse cenário mostra a fragilidade e a facilidade com que a mata de reservas pode ser afetada”, explicou.

Crime

Evidenciando a responsabilidade social, Maria Lucia lembrou que as queimadas espontâneas, sem a ação do homem, são possíveis, mas muito pouco prováveis. “A queima intencional é crime e proibida em áreas urbanas. Mesmo as da palha da cana para colheita nesse período também já foram proibidas”.

Professora Maria Lucia Moura Campos,
do Departamento de Química da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto (FFCLRP)
A professora citou que ações aparentemente pequenas, como o descarte no chão de uma ponta de cigarro, podem trazer conseqüências maiores. “Em países da Europa, por exemplo, é falta grave de trânsito jogar uma bituca de cigarro pela janela do carro. Talvez esse tipo de restrição dê à população uma melhor percepção do perigo de lançar no solo uma faísca de fogo. Mas há grandes dificuldades de fiscalizar e de conscientizar as pessoas para evitarem a queima”, destacou.

São vários os danos à saúde que, segundo Maria Lucia, podem ocorrer devido a esse cenário. Durante o processo de queima da vegetação, por exemplo, são emitidas espécies químicas como monóxido de carbono (CO), que afeta principalmente pessoas com problemas cardíacos, causando sintomas como dor no peito e cansaço; óxidos de nitrogênio (NOx) e de enxofre (SO2), que são espécies bastante ácidas, agravam problemas respiratórios; hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), muitos dos quais com conhecida ação carcinogênica; e vários outros compostos, incluindo compostos orgânicos voláteis.

A combinação de ar seco, elevadas temperaturas, luminosidade excessiva, óxidos de nitrogênio e carbono orgânico volátil eleva a produção de ozônio, apontou Maria Lucia. “Sabe-se que para cada hectare da palha da cana queimada, emite-se cerca de 250 kg de matéria orgânica e de 60 kg de óxidos de nitrogênio. Esses valores podem ser mais elevados para uma área contendo mata fechada. Assim, não é à toa que a concentração de ozônio está tão elevada na região”, concluiu.

A docente disse ainda que esse ozônio que respiramos é extremamente oxidante e causa ardor nos olhos, nariz e garganta, tosse seca, e agrava doenças respiratórias. Além do ozônio, outro parâmetro que tem deixado nossa atmosfera com qualidade regular é a quantidade de material particulado. “Quanto mais fino, mais penetra nos pulmões, levando ao agravamento de doenças respiratórias e cardiovasculares. Nossa [a de Ribeirão Preto] região tem um tipo de agricultura que deixa o solo muito exposto, principalmente na época da safra”.

Por Rosemeire Soares Talamone, da Coordenadoria do Campus de Ribeirão Preto