quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DERRUBADAS CONTINUAM


Pesquisa e política pública para diminuir o
desflorestamento no Sudeste do Pará

Estudo do Museu Goeldi faz levantamento de áreas desflorestadas no período de
onze anos nos municípios de São Félix do Xingu e Altamira
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Com mais de três décadas de atividades na região amazônica, a pecuária é uma atividade que interfere diretamente no processo de ocupação da região. A conversão da floresta primária em pastagens pode causar uma série de impactos, como alterações nos ciclos bioquímicos e a perda de biodiversidade.

Buscando analisar esse processo, a bolsista do Museu Paraense Emílio Goeldi, Gabriele Ferreira Monteiro, orientada pelo pesquisador Jorge Gavina Pereira, desenvolveu o estudo "Caracterização do Desflorestamento na Fronteira da Expansão da Agropecuária no Sudeste do Estado do Pará". As áreas escolhidas para a análise foram os municípios de São Félix do Xingu e Altamira, no sudeste paraense, dada as suas relevâncias no processo de expansão da ocupação de fronteira.

Gabriele conta que o objetivo do estudo foi analisar os padrões de abertura de áreas de floresta para a expansão da fronteira agropecuária no Sudeste do Estado, no período de 1997 a 2008. Para desenvolver a analise, Gabriele estabeleceu como base seis unidades espaciais e utilizou dados de desflorestamento gerados pelo Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), informações reconhecidas como oficiais do governo brasileiro.

Resultados - Tomada como ponto inicial de referência, é a partir da sede do município de São Félix do Xingu, que se definiram as seis unidades espaciais utilizadas na pesquisa. Divididas de forma concêntrica (circular), as unidades estão em trechos de 0- 50km, 50-100km, 100-150km, 150-200km, 200-250km e 250-300km da sede. 

De acordo com a pesquisa, os resultados permitiram comparar as unidades espaciais de estudo e o comportamento do desflorestamento para cada um dos anos analisados. Na área mais próxima da cidade de São Félix, por exemplo, onde a ocupação é mais antiga, há pouca floresta e muita intervenção humana.

Uma das características analisadas pela pesquisa é de que o tamanho médio das áreas desflorestadas é maior nas unidades mais distantes. Para ilustrar essa evidência do estudo, está o fato de que, apesar da unidade espacial de 0-50 quilômetros ter 6.527 pontos de desflorestamento, esses pontos têm em média 24 hectares. Já a unidade espacial mais distante, entre 250-300 quilômetros tem apenas 48 pontos de desflorestamento, mas cada um apresenta, em média, 95 hectares.

Se as ocupações mantiverem a dinâmica que vem apresentando nos onze anos analisados, quando o segundo nível de ocupação não tiver mais áreas para serem ocupadas, o desflorestamento continuará a avançar. A pesquisa detectou que, no período analisado, a maior área desflorestada se concentra na região que fica de 50 a 100 quilômetros de São Felix, uma vez que nas áreas mais próximas a sede do município o desflorestamento foi menor, possivelmente, por falta de áreas de floresta a serem derrubadas.

Uma das hipóteses levantadas é que as áreas de florestas próximas à sede do município estão se acabando, fato que favoresse a que o desflorestamento vem cresça em áreas mais distantes da sede do município. 

A retirada da floresta interfere diretamente no clima da região, uma vez que é ele que regula diversos ciclos, como o das precipitações (chuvas). As conseqüências acontecem em cadeia, pois se a retirada das florestas interfere nas precipitações, também interferem nas secas e cheias dos rios e na drenagem das terras.

Na opinião de Gavina, "o aumento da produtividade das áreas já abertas (desflorestadas) diminuiria a pressão para a abertura de novas áreas de floresta". O orientador da pesquisa explica que "o conhecimento dos padrões de modificação da floresta para outros fins é crucial para a compreensão do processo de desflorestamento, que por sua vez, é importante para subsidiar a elaboração de políticas públicas que visem ordenar a ocupação".

Cenários de produção agrícola, pecuária e conflitos fundiários
São Félix do Xingu - Criado em 1961, a área do município pertencia originalmente à Altamira. Com economia baseada na pecuária de corte, possui o maior rebanho do Brasil com mais de 1,7 milhões de cabeças. Atualmente, além da sede, o município é constituído por quatro distritos: Taboca, Nereu, Lindoeste e Ladeira Vermelha. São Félix é cercado por vários rios, os dois principais são os rios Fresco e Xingu. A população estimada, em 2009, era de 67.208 habitantes para uma área de 84.212,4 km².
Altamira - Com área de 161.584,9 km², é o maior município do Brasil e do mundo em extensão territorial. 

As principais atividades econômicas são a agricultura dedicada ao arroz, cacau, feijão, milho, pimenta-do-reino; a extração de borracha e castanha-do-pará, além da pecuária. Cenário de conflitos fundiários, o município está localizado na região da Terra do Meio, no centro do Pará, é uma das áreas mais importantes para conservação da sócio-biodiversidade da Amazônia.

Texto: Lucila Vilar, Agência Museu Goeldi