Síntese marinha    
Por Alex Sander Alcântara/Agência FAPESP 
Polissacarídeos sulfatados (cadeia de  açúcares com alto peso molecular) desempenham funções estruturais  importantes, uma vez que estão envolvidos em diversos processos  biológicos, como adesão, proliferação e diferenciação celular. Além  disso, possuem diversas atividades farmacológicas: são anticoagulantes,  antiinflamatórios e antitumorais.
Em estudo apresentado nesta quinta-feira (9/9) no Workshop sobre biodiversidade marinha: avanços recentes em bioprospecção, biogeografia e filogeografia,  realizado pelo programa Biota-FAPESP na sede da Fundação, Paulo Mourão,  professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),  demonstrou a importância desses polissacarídeos no processo de  fertilização de alguns invertebrados marinhos.
O objetivo do trabalho de pesquisa é isolar, caracterizar e  determinar as estruturas dos polissacarídeos sulfatados de invertebrados  marinhos, especialmente o ouriço-do-mar, pepino-do-mar e ascídias.
"Tentamos demonstrar como esses polissacarídeos regulam o processo de  fertilização do ouriço-do-mar. Isso é importante para a atividade  biológica desses equinodermos. Vimos que se trata de um mecanismo de  controle. Quando ocorre a fertilização, o espermatozoide do ouriço só  fertiliza o óvulo da própria espécie", disse Mourão à Agência FAPESP .
O fato de fertilizar tal óvulo tem uma importância biológica muito  grande, segundo o pesquisador do Laboratório de Tecido Conjuntivo da  UFRJ, por estar relacionado com a diferenciação biológica da própria  espécie.
"O entendimento dos mecanismos genéticos que regulam essa  diferenciação permitirá, no futuro, entender a partir de uma base  genética como ocorre a formação dessas espécies de ouriço-do-mar",  disse.
Segundo Mourão, a longo prazo o objetivo da pesquisa é compreender  geneticamente como se dá a biossíntese desse processo envolvendo os  polissacarídeos. "Com isso, conseguiremos entender um dos mecanismos que  regulam a separação das espécies de ouriços-do-mar", estimou.
O cientista destacou que a pesquisa se concentra no estudo da  estrutura, da função e das atividades biológicas de diferentes tipos de  polissacarídeos sulfatados com o objetivo final de desenvolver novos  fármacos, principalmente contra trombose.
O laboratório da UFRJ já descobriu, por exemplo, substâncias análogas  à heparina – polissacarídeo usado no tratamento de trombose e que é  produzida comercialmente a partir de intestinos e pulmões de bovinos e  suínos – em espécies de ascídias.
Segundo Mourão, há uma urgência na produção de novas drogas  antitrombóticas e antitumorais. "No caso da heparina, ela é uma fonte de  produção limitada e empregada por via intravascular ou subcutânea.  Estamos tentando criar um polissacarídeo que possa ser ministrado por  via oral", indicou.