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 Bragança tem a terceira maior exploração comercial  
de pescado do Estado, com  seis mil toneladas a |  
 
 Jéssica Souza/UFPA
foto Alexandre Moraes
"Como esteira de luz e bonança / A esplender para nossa emoção /  Esta terra ideal de Bragança / É de Deus a melhor criação". Essa é a  estrofe inicial do hino escrito pelo poeta Antônio Telles de Castro e  Sousa para uma das cidades mais antigas do Pará, localizada no nordeste  paraense, a 220 quilômetros da capital Belém. Os versos remetem à  biodiversidade típica das terras amazônidas, que, no caso bragantino, se  traduz em uma vasta área de manguezal, praias de mar e de água doce,  como a formada pelo Rio Caeté, às margens de onde surgiu o primeiro  povoado que, há 388 anos, deu origem ao município.
O rio, que  conferiu à cidade o carinhoso apelido de Pérola do Caeté, suporta uma  diversificada ictiofauna (conjunto das espécies de peixes que existem  numa determinada região), na qual figuram espécies como pargo, pescada  amarela, mero, bagres, garoupa, pescada gó e muitos outros, inclusive,  peixes ornamentais. O porto de Bragança é o terceiro do Estado com maior  exploração comercial de peixes, produzindo cerca de seis mil toneladas  anuais, ficando atrás apenas de Belém (10 mil toneladas) e Vigia (nove  mil toneladas).
A diversidade natural de pescado na região  bragantina não apenas significa um "prato cheio" para a subsistência da  população nativa ou para o desenvolvimento da economia local, como  também para pesquisas científicas, a exemplo das promovidas pela  Universidade Federal do Pará, que, desde 1987, sedia um campus no  município. O Campus de Bragança, atualmente coordenado pela professora  Rosa Helena Sousa, é o primeiro no interior paraense a possuir um curso  de Engenharia de Pesca, graduação criada em 2006, com recursos do Plano  de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).
Os  investimentos do Reuni, com base nas potencialidades da economia  pesqueira da região do Salgado, tornou possível a estruturação do  Instituto de Estudos Costeiros (IECOS), que, no Campus de Bragança,  abriga os cursos de Engenharia de Pesca, Ciências Biológicas, com  Licenciatura em Ciências Biológicas e Ciências Naturais, e o Programa de  Pós-Graduação em Biologia Ambiental, com mestrado e doutorado na área.  Segundo o professor Pedro Chira Oliva, diretor geral do Instituto, as  pesquisas sobre a zona costeira favorecem o desenvolvimento  socioeconômico de Bragança e a preservação da biodiversidade nativa, com  foco na exploração sustentável. É o primeiro instituto criado em um  campus do interior na UFPA.
Recursos garantem construção de 10 novos laboratórios
Os recursos do Programa MEC Expansão e da Financiadora de Estudos e  Projetos (FINEP) possibilitaram, também, a construção de 10 novos  laboratórios e 14 novas salas de aula, infraestrutura necessária ao  desenvolvimento científico na região. Os Laboratórios de Pesquisa e  Tecnologia da Engenharia de Pesca; Pesca e Navegação; Aquicultura de  Peixe Ornamental e Peixe Marinho; Ictiopatologia e Sanidade; Extensão  Pesqueira (Socioeconomia); Cartografia, Geoprocessamento e Modelagem;  Genética Aplicada à Pesca e Aquicultura; Tecnologia do Pescado;  Microbiologia; Qualidade de Água; Biologia Pesqueira; Geologia Costeira e  outros integram a estrutura do Instituto de Estudos Costeiros. 
No  Laboratório de Aquicultura de Peixe Ornamental, por exemplo,  desenvolvem-se tecnologias de criação, produção, nutrição e sanidade de  peixes ornamentais. Aquários de vidro, sistemas de recirculação e  tratamento de água auxiliam na investigação da sustentabilidade dessa  cadeia, tanto de pesca quanto da criação em meio aquático. Segundo o  coordenador do Laboratório, professor Rodrigo Fujimoto, o Pará é o  segundo Estado brasileiro que mais exporta peixes ornamentais de  captura. "Em Bragança, o comércio de peixes ornamentais ainda não é tão  forte, mas a UFPA está capacitando pessoas para criarem esses peixes na  região", explica.
Isso significa investimentos em educação e no  desenvolvimento da economia local a partir de atividades de ensino,  pesquisa e extensão. No Laboratório de Tecnologia do Pescado, sob a  responsabilidade dos professores Marileide Alves e Carlos Cordeiro,  alguns projetos prestam serviço à comunidade. Um deles, coordenado por  Carlos Cordeiro, desenvolve estudos comparativos entre a pescada gó e a  pescada sete grudes, abundantes na região. "Há suspeitas de fraudes com  relação aos filés desses pescados vendidos na Vila dos Pescadores de  Bragança. Vende-se o que é mais barato como sendo aquele de maior valor,  ou seja, usa-se a sete grudes como se fosse a gó", comenta o professor.
Sopa de resíduos de pescado tem alto valor nutritivo
Além de trabalhos de análise físico-química de ostras e de defumação  de pescado de água doce, como o tambaqui e a tilápia, o Laboratório de  Tecnologia de Pescado apoia o projeto de pesquisa coordenado pelo  professor Francisco Holanda, que recentemente ganhou um prêmio estadual  sobre Inovação Tecnológica. Trata-se do desenvolvimento de uma sopa  feita com resíduos de pescado, de alto valor nutritivo e baixo custo. A  proposta é incentivar a utilização do alimento como merenda escolar da  rede pública de ensino. Atualmente, o projeto concorre ao mesmo prêmio  em caráter nacional. 
A primeira turma de Engenharia de Pesca do  Campus de Bragança conclui o curso ainda em 2010, disponibilizando cerca  de vinte novos engenheiros no mercado local. "O curso de Engenharia de  Pesca foi muito bem aceito em Bragança, uma vez que o Pará é o segundo  maior produtor de pescado da Amazônia e pode chegar a ser o primeiro.  Bragança é o terceiro porto que mais desembarca pescado e onde estão  localizadas as principais indústrias de pesca da região", afirma a  professora Zélia Pimentel Nunes. A expectativa é que, em breve, o curso  seja reconhecido nacional e internacionalmente.