quarta-feira, 27 de outubro de 2010

BIODIVERSIDADE AMAZÔNICA PODE SER MAIOR

E a biodiversidade amazônica pode ser ainda maior




Estudos que fazem a revisão de espécies existentes e se baseiam em dados históricos para identificar como os animais se distribuem geograficamente podem revelar uma ainda mais rica diversidade da fauna regional



Agência Museu Goeldi  

Com a biodiversidade mais decantada do planeta, a Amazônia ainda é capaz de surpreender. Assim revelam estudos desenvolvidos por pesquisadores que participam de evento no Museu Goeldi – Seminário da Pós-Graduação em Zoologia. São mais de 60 trabalhos desenvolvidos por alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, realizado desde a década de 80 através de convênio entre o Museu e a Universidade Federal do Pará (UFPA).










Com cinco intensos dias de programação, o seminário vai demonstrar por que estudar abelhas, moscas, vespas, borboletas, cobras, macacos, peixes, tartarugas, entre tantos outros grupos. Os pesquisadores em formação tanto em nível de mestrado como de doutorado, apresentam estudos inéditos sobre a fauna amazônica.
A revisão de espécies já conhecidas em grupos os mais distintos garante argumentos para uma diversidade animal ainda maior na região. Tratar aspectos da filogeografia, por exemplo, representa conhecer os processos históricos pretéritos que podem ser responsávies pela distribuição geográfica de indivíduos na natureza na atualidade.
Os trabalhos de pesquisa tratam de moscas, vespas e borboletas a mamíferos, quelônios, peixes e serpentes. A área geográfica de abrangência dos estudos vai do Amapá ao Maranhão. No estado vizinho a norte do Pará, a pesquisa analisa mamíferos em região de cerrado no Amapá. Já as serpentes são objeto de estudo na área de influência do Projeto Juruti/Alcoa. E na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, a pesquisa desenvolvida avalia o impacto ambiental da pesca do pirarucu.

No cerrado e na Reserva - No Amapá, o estudo de Mônica Coelho, sob a orientação da Dra. Ana Cristina Oliveira, da Universidade Federal do Pará (UFPA) já teve início - com o objetivo de avaliar os impactos gerados pela plantação de eucalipto em larga escala sobre a mastofauna da região. Até o momento, foram percorridos 450 km e registrados 27 espécies de mamíferos de médio e grande porte, mas os censos ainda não terminaram. 

A pesquisa, que teve início em 2009, já apresenta, porém, resultados. No geral, o sistema silvicultural estudado se mostra capaz de manter a fauna local com espécies de mamíferos carnívoros de grande porte, mas os estudos continuam, agora, para verificar a viabilidade dessas populações a longo prazo. 

Também iniciado em 2009, o estudo de Lorena Almeida, orientado por Dr. Helder Queiroz do Instituto Mamirauá, investiga a comunidade macrobentônica – componentes de fauna indicadores de impacto ambiental - nos lagos da Reserva Mamirauá. Inédito em estudar esse tipo de indicador, a pesquisa pode revelar possíveis táxons relevantes ao manejo da pesca do pirarucu. 

Resultados preliminares da pesquisa apontam que os lagos com intensa e pouca atividade pesqueira não apresentaram diferenças significativas nas suas populações durante o período de seca, porém, o manejo da pesca do pirarucu aparentemente gera uma maior diversidade e equitatividade na comunidade dos lagos da Reserva.

De outras temáticas e grupos animais – Municípios paraenses os mais diversos são locais de investigação por parte dos pesquisadores da Zoologia. A interação das tartarugas marinhas com a pesca artesanal em Curuçá no Pará é um dos objetos de estudo, enquanto que na Floresta Nacional do Tapajós em Santarém, há pesquisa sobre e a estratégia de caça de comunidades ribeirinhas. Na bela região tapajônica de Alter do Chão, pesquisadores estudam também o efeito da fragmentação do hábitat natural sobre as borboletas que se alimentam eminentemente de frutas.

Já a pesquisa de Alessandro Menks com a orientação da Dra. Ana Pudrente, do Museu Goeldi, visa descrever a composição e a abundância, além de estimar a riqueza das espécies de serpentes na área do Projeto Juruti/Alcoa. Iniciado ainda em 2010, o estudo irá categorizar as espécies de acordo com o seu habitat, atividade diária, dieta e reprodução na área estudada, além de avaliar o desempenho dos métodos utilizados e comparar a composição faunística da localidade com outras florestas na Amazônia brasileira. 

Outras localidades onde estão instalados projetos de exploração de recursos naturais também são alvo de interesse da pesquisa, como na Base de Exploração Petrolífera de Urucu, no Amazonas, onde o estudo de Gerson Rodrigues, também sobre a orientação de Ana Prudente, se dedica a investigar a biologia alimentar e da reprodução das serpentes da área. 

Desafios amazônicos – O desafio da formação de recursos humanos na região amazônica é contínuo. Para a pesquisadora e coordenadora substituta da Pesquisa e Pós-Graduação do Museu Goeldi, Ana Vilacy,“Os desafios que a região amazônica apresenta para garantir o uso sustentado dos seus recursos naturais e sociais são cada vez mais complexos e demandam ações efetivas de todos os setores da sociedade”. 

A resposta para esses desafios, argumenta Vilacy, “é o investimento na formação de profissionais qualificados na Amazônia, que é fundamental para garantir condições de avançarmos no conhecimento dos diversos sistemas naturais, ambientais e culturais amazônicos, com profissionais preparados para atuar na Região”.

A Coordenadora destaca ainda que o Curso de Pós-graduação em Zoologia forma especialistas em inventário da fauna; sistemática e biogeografia; dinâmica e conservação de ecossistemas; e monitoramento e manejo da fauna. Para ela, “a formação desses profissionais, na região e para a região, desempenha um papel crucial, para a ampliação do conhecimento da região. Além disso, “a pós-graduação possibilita a continuidade das pesquisas ao propiciar a fixação desses especialistas na Amazônia e, consequentemente, contribui para o desenvolvimento de estratégias de conservação e uso adequado das riquezas e ambientes da região”, conclui Vilacy.

Texto: Jimena Felipe Beltrão e Vanessa Brasil