Compreendendo as Amazônias
O trabalho integrado e multidisciplinar do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia já apresenta resultados

Agência Museu Goeldi
O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia, sediado no Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), sob a coordenação da ecóloga Ima Célia Guimarães Vieira, agrega grupos de trabalho com temáticas comuns relacionadas às conseqüências ambientais e sociais dos diferentes usos da terra na Amazônia no intuito de produzir cenários futuros para a biodiversidade.
Estruturado em 12 sub-projetos, alguns já iniciados, outros ainda a iniciar, o destaque deste INCT é a integração dos grupos que investigam, de forma multidisciplinar, os variados níveis de sustentabilidade na região.
No período de 2009 - 2010, primeiro ano de atuação, houve intensa atividade de pesquisa, o que culminou na publicação de 161 trabalhos científicos e 52 apresentações em conferências científicas nacionais e internacionais. Os resultados preliminares obtidos pelos grupos de pesquisa contemplam vários sub-projetos, que, apesar de possuírem abordagens distintas para compreender a Amazônia no presente e no futuro, trabalham de forma integrada para atingir a complexidade da biodiversidade e das sociedades amazônicas.
O trabalho integrado dos sub-projetos “Análise Custo-Benefício entre Conservação e Desenvolvimento na Amazônia Brasileira” e “Determinando os Custos Sociais e Ambientais de Queimadas na Amazônia” resultou na criação de uma rede de, aproximadamente, 400 pontos de amostragem nas regiões de estudo em Santarém-Belterra e Paragominas, no Pará, distribuídos em 20 bacias hidrográficas (c. 5000 ha em cada região).
Estas são consideradas regiões-chave, pois apresentam um histórico de ocupação bastante complexo e, portanto, incluem diferentes usos da terra. O objetivo da investigação multidisciplinar é entender os fatores que definem as decisões de uso e manejo da terra e as relações socioeconômicas e ambientais dessas mudanças.

O estudo socioeconômico teve início em Santarém-Belterra e começa em outubro em Paragominas.
No sub-projeto “Papel das Alterações Climáticas e da Paisagem na Evolução Passada e Futura de Espécies de Vertebrados e Plantas Superiores de Especial Interesse para a Conservação na Amazônia” , pesquisadores investigaram a distribuição e a filogeografia de 30 espécies de aves da região para avaliar a relação entre as mudanças climáticas e os padrões de diversificação das espécies. E, segundo resultados parciais, as espécies da fauna amazônica têm um grau significativo de resistência às alterações climáticas passadas.
Os pesquisadores constataram que a rede fluvial tem um papel chave na diversificação das espécies na região - este processo é caracterizado com certa constância nos últimos 5 milhões de anos. Acrescenta-se ainda que, apesar das mudanças climáticas severas durante o Pleistoceno – era geológica terminada há cerca de 10.000 anos –, que afetaram a distribuição e a diversidade genética das populações de vertebrados, não houve altas taxas de extinção. Os efeitos das mudanças climáticas passadas sobre a biodiversidade auxiliam na previsão de cenários futuros da região. Esta descoberta será incorporada aos modelos que avaliam as conseqüências do aquecimento global na Amazônia.

Os subprojetos que têm como foco as práticas sustentáveis de uso da terra indicam que o tipo de manejo adotado no solo sob cultivo das espécies madeireiras pode ser importante para a recuperação de áreas degradadas, pois garante a manutenção da qualidade do solo. Outra constatação refere-se aos impactos da implantação de pólos de biodiesel no Pará: o plantio de culturas anuais de subsistência foi deslocado para outros locais e a paisagem dos municípios alterou-se drasticamente.
Enquanto aguarda a liberação de licenças da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) para estudos nas áreas indígenas, a equipe do sub-projeto “Laboratório de Práticas Sustentáveis em Terras Indígenas no Arco do Desmatamento” apresentou o projeto na Terra Indígena Las Casas-PA, Xiepihu-rena e Paracui-rena (TI Turiaçú-MA) e Moikarakô (TI Kayapó-PA) para a tomada de decisões das respectivas comunidades.
Texto: Luena Barros