segunda-feira, 4 de outubro de 2010

FOSSIL REVELA TER HAVIDO UM PINGUIM GIGANTE

Pinguins vermelhos

Pinguins vermelhos
Descoberto no Peru, fóssil de pinguim gigante que viveu há mais de 30 milhões de anos revela tonalidades de penas diferentes das espécies atuais (ilust.:divulgação)



Agência FAPESP 

O primeiro pinguim extinto com evidência de que tinha penas foi encontrado no Peru por um grupo internacional de pesquisadores. A descrição foi publicada na sexta-feira (1º/10) na edição on-line da revista Science.

O fóssil analisado, com idade estimada de 36 milhões de anos, indica um pinguim gigante cujas penas teriam tido tons avermelhados de cinza e marrom, diferentes da configuração de traje a rigor, o branco e preto (ou marrom) dos pinguins atuais. O fóssil foi descoberto por Ali Altamirano, do Museu de História Natural em Lima.

A espécie descrita foi denominada Inkayacu paracasensis, ou “rei da água”. O fóssil analisado é de uma ave com cerca de 1,5 metro, o dobro do tamanho do pinguim-imperador (Aptenodytes forsteri), a maior espécie da família Spheniscidae existente atualmente.

“Até termos encontrado esse fóssil, não havia evidência a respeito das penas e cores e dos formatos das nadadeiras dos pinguins extintos. Temos muitas dúvidas e essa é a nossa primeira chance de começar a respondê-las”, disse Julia Clarke, da Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, autora principal do artigo publicado.

O estudo indica que os formatos das nadadeiras e das penas que fazem dos pinguins nadadores tão eficientes evoluíram cedo na história desses animais, enquanto o padrão de cores atual é uma inovação muito mais recente.

Assim como os pinguins atuais e diferentemente de outras aves, as penas das asas do Inkayacu paracasensis eram densamente agrupadas, reunidas umas em cima das outras e resultando em nadadeiras estreitas e duras. As penas no corpo tinham base ampla, que nos pinguins atuais ajuda no deslocamento na água.

As penas de aves obtêm suas cores a partir do tamanho, formato e arranjo de estruturas microscópicas chamadas melanossomos. Os autores da pesquisa compararam estruturas extraídas do fóssil encontrado na Reserva Nacional de Paracas com os de aves vivas de modo a tentar reconstruir as cores do animal extinto.

“Descobertas a respeito das cores de organismos extintos podem revelar pistas para seu comportamento e sua ecologia”, disse Jakob Vinther, da Universidade Yale, outro autor do estudo.

Os cientistas verificaram que os melanossomos do Inkayacu eram mais parecidos com os de outras aves. Nos dos pinguins, essas estruturas são criadas por melanossomos muito maiores do que os da antiga espécie e de outras aves.

O pigmento melanina, contida em melanossomos, dá às penas maior resistência, o que levou os cientistas a estimar que o motivo de os pinguins terem mudado a coloração das penas tenha a ver mais com as demandas hidrodinâmicas de uma vida aquática.

O artigo Fossil Evidence for Evolution of the Shape and Color of Penguin Feathers (doi: 10.1126/science.1193604), de Julia Clarke e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org/cgi/content/abstract/science.1193604.