sexta-feira, 1 de outubro de 2010

JARDINAGEM COMO FERRAMENTA PARA A INCLUSÃO

Inclusão social a partir da jardinagem
O curso visa qualificar os alunos nas áreas de manutenção e implantação de jardins
Crédito: Paulo Soares (ESALQ/Acom)
Ao longo do ano, 80 pessoas são assistidas por este projeto. São cidadãos em condição de desemprego, ou desfavorecidas economicamente, residentes nos bairros da periferia de Piracicaba

Crédito: Paulo Soares (ESALQ/Acom)




Debaixo de sol forte, temperatura próxima dos 35ºC, João Paulo Sucupira Neves, mais sete estagiários, ensina um grupo de 20 pessoas a dispor mudas de calisias em um canteiro do setor de Horticultura, do Departamento de Produção Vegetal (LPV), da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (USP/ESALQ). João Paulo é aluno do 3º ano de Engenharia Agronômica e estagiário do Grupo de Estudos em Paisagismo (GEP). As pessoas que aprendem a dispor mudas de calisias são piracicabanos em busca de inserção no mercado de trabalho a partir do conhecimento em jardinagem. João Paulo é orientado pela professora Ana Maria Liner Pereira Lima, do LPV e coordenadora do GEP. 

Desde 2005, Ana Maria Liner vem disponibilizando o curso "Inclusão social através das técnicas de jardinagem", contando com a ajuda de muitos alunos e alguns técnicos do departamento. "Durante esse tempo todo que o curso vem sendo oferecido, muitos desses alunos, inclusive, pela importância que viram em poder estar colaborando com uma sociedade menos favorecida, sócio e economicamente, mesmo após formados, continuaram como "professores" do curso, na tarefa de promover o ensino de técnicas básicas de jardinagem", comenta a professora. 

O objetivo é proporcionar qualificação que encaminhe essas pessoas, muitos desempregados, chefes de família, a um desenvolvimento profissional nas áreas de manutenção e implantação de jardins. "Com isso, criamos oportunidades de inclusão no mercado de trabalho e/ou melhoria de nível de renda, além de atender a várias solicitações realizadas pela comunidade piracicabana, no que se refere aos trabalhos que a Universidade oferece à população, cumprindo a missão social que uma Universidade pública deve contemplar", reforça Ana Maria Liner.


Logo quando ingressou na ESALQ, em 2008, João Paulo foi atraído pela ideia de unir uma área com a qual se identifica com a possibilidade de ajudar as pessoas. "No início, o que me chamou atenção foi trabalhar com paisagismo, mas a proposta de contribuir com a mudança da realidade traz um sentimento muito gratificante. Quando comecei a ensinar e percebi que esses conceitos constroem um diferencial no futuro profissional de muita gente, o lado social falou mais alto para que eu continuasse", conta o futuro agrônomo.
Ao longo do ano, 80 pessoas são assistidas por este projeto. São cidadãos em condição de desemprego, ou desfavorecidas economicamente, residentes nos bairros da periferia de Piracicaba. Inicialmente, a seleção dessas pessoas foi responsabilidade do Serviço de Promoção Sócia, da Divisão de Atendimento à Comunidade da Coordenadoria do Campus "Luiz de Queiroz". Atualmente é da Secretaria Municipal do Trabalho e Renda (SEMTRE) e do Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT), da Prefeitura Municipal de Piracicaba, que ainda fazem o encaminhamento dessas pessoas ao mercado de trabalho. 
Durante sete semanas, às quartas-feiras, são oferecidas aulas teóricas e práticas, versando sobre identificação e primeiro contato com as plantas ornamentais; desenvolvimento das plantas ornamentais em ambientes diferenciados; técnicas de propagação de plantas ornamentais; conceitos básicos sobre os solos dos jardins; adubação orgânica e inorgânica; produção de material compostado; controle de pragas e doenças, nos jardins; implantação e manutenção de gramados; podas e condução das plantas; implantação e manutenção de jardins; montagem de vasos e leitura e execução de projetos paisagísticos.
A aluna Ângela Brolio, 30 anos, que hoje é atendente em uma rede de fast food, está participando do curso porque quer voltar a atuar com jardinagem. "Eu já trabalhei nessa área, mas sem conhecimento específico. Eu gosto desse contato com jardins e estou encontrando, aqui, uma possibilidade de atuar junto a profissionais, como arquitetos e paisagistas. As aulas superaram minhas expectativas, já que recebemos muita informação e podemos aplicá-las na prática. É interessante, também, porque aprendemos a organizar o espaço e termos cuidados com o ambiente", diz.
Para Eduardo Antonio Mandro, 37 anos, que trabalha como bilheteiro nos terminais de ônibus, o curso de jardinagem foi uma alternativa para aprimorar seus conhecimentos. "Aprendi sobre forração, adubação, conhecer detalhes de cada planta. O curso me dá suporte para praticar essa profissão posteriormente". Rosangela Cristina Toledo Pompermayer, 49 anos, está desempregada e, antes de fazer o curso, tinha pouco contato com jardinagem. "Eu não conhecia muito dessa área, mas achei maravilhoso, o pessoal aqui na ESALQ foi muito atencioso. Gostei da parte de enxertia, extrair mudas de primavera, lidar com grama. Adorei o contato com terra, valeu a pena e agora vou tentar aplicar o que eu aprendi e quem sabe melhorar minha renda", confessa. 
Uma das colaboradoras do curso é a arquiteta Cibele Zanforlim, que procurou a professora Ana Maria Liner porque queria trabalhar com paisagismo e, atualmente, também ministra aulas de implantação e manutenção de jardins, além de leitura e execução de projetos paisagísticos. "Eu cursei algumas disciplinas, na área, inclusive aqui na ESALQ, e hoje acompanho o curso, que tem evoluído bastante após a parceria com a SEMTRE. Além disso, já constatamos que muita gente que passou por aqui tem melhorado sua renda com serviços de paisagismo e jardinagem. Eu, inclusive, tenho um ex-aluno trabalhando comigo, na execução dos meus projetos", destaca. 

"Disk-jardim"
A professora Ana Maria Liner reforça que seria ideal que, após o curso, o poder público captasse o pessoal a partir de um serviço específico. "Seria interessante a criação de uma espécie de ‘disk-jardim', um serviço rápido que indicasse esses profissionais para executarem obras em propriedades particulares ou empresas.
Tem muita gente que chega aqui sem conhecimento, mas demonstra habilidade na execução das tarefas. Da mesma maneira, tanto empresas já instaladas ou recém chegadas na cidade, bem como donos de chácaras, sítios ou que possuam em suas residências espaços amplos destinados à jardinagem, poderiam encontrar jardineiros com maior facilidade", conclui. A situação de emprego dos alunos, depois que terminam o curso, parece melhorar. Segundo levantamento feito por Ernani Pereira Junior, estudante de Engenharia Agronômica que também acompanha o curso de jardinagem, a porcentagem de alunos que conseguiu emprego, após os cursos, foi de 19,51%. 
"Esse número é significativo, principalmente se for considerada a baixa escolaridade verificada junto aos mesmos e as exigências do mercado de trabalho, em relação a esse quesito. Apesar de, somente 4,88% atuarem como jardineiros, alguns entrevistados, empregados em outras áreas, afirmaram realizar, esporadicamente, trabalhos com jardinagem para complementação da renda familiar", comenta.

A próxima turma do curso de jardinagem terá início em 6 de outubro. Mais informações podem ser obtidas na SEMTRE, na Rua Voluntários de Piracicaba, 728 (esquina R. Sto Antônio) ou pelo telefone (19) 3437-2222 begin_of_the_skype_highlighting              (19) 3437-2222      end_of_the_skype_highlighting.


Texto: Caio Albuquerque